Descubra Nikkei

https://www.discovernikkei.org/pt/journal/2018/3/5/carolina-shimabukuro/

Carolina Shimabukuro: senhora de ferro

Carolina Shimabukuro quebra os padrões no trabalho e nos esportes. (Foto ©APJ/José Vidal)

Piloto de corrida e gerente de suporte da Komatsu Mitsui em Lima, Carolina Shimabukuro Goto A vida de Carolina Shimabukuro Goto é um teste de habilidade em mecânica, velocidade no volante e saber evitar os preconceitos que lhe são colocados.

Desde criança gostava de brincar de carro com o irmão ou de estar na oficina que seu pai tinha no bairro La Victoria. “Os mecânicos me obrigavam a desmontar ou limpar peças do carro, estava sempre cheio de graxa.” Ela não queria bonecas (ela odiava Barbie), desde menina o sonho de Carolina Shimabukuro Goto era ser mecânica de automóveis. Quando estava na escola La Unión já sabia que queria desenhar o seu próprio carro de corrida, por isso não hesitou em estudar no instituto Tecsup.

“No quinto ano do ensino médio eu já sabia que queria cursar Manutenção de Máquinas Pesadas. Eu descobri tudo para entrar. No início, meus pais queriam que eu estudasse engenharia, mas eu tinha certeza do que queria.” O medo de seus pais, Tsutomu e Isabel, era que a filha estivesse em um mundo de homens puros, onde o machismo dominasse por falta de oposição. Mas ela estava disposta a quebrar esse padrão.

“Em toda a sala havia apenas três mulheres. No final, só sobrou eu. Para ser respeitado eu precisava saber mais que o resto. Nas aulas práticas, eu era o primeiro a terminar os trabalhos e quando alguém me chamou de “chinês” uma vez, tive que acertar. Desde então sempre me trataram como igual, até me contaram coisas que só se falam entre homens”, lembra Carolina, que conseguiu estagiar na Komatsu Mitsui, empresa que estaria intimamente ligada ao seu futuro profissional.

DESTRUINDO PRECONCEITOS

Nos primeiros passos teve que fazer de tudo para conquistar a confiança dos chefes, todos homens mais velhos. Depois de passar pela fase mais básica de estágio, Carolina foi enviada por todo o Peru para fazer manutenção em máquinas pesadas de mineração e construção. Lá ele enfrentou mais preconceito ao verem que era uma mulher que chegava como mecânica. Sua caixa de ferramentas pesava quatorze quilos.

“Acho que muitas vezes se pensa que a mulher só consegue se destacar com um rosto bonito ou sorrindo. Mas tem dois caminhos: o outro é com talento e esforço”, diz Carolina, que comenta que saber de carro a ajudou a estar no mundo dos homens (“não sei nada de futebol”), a poder participar em suas conversas e não ficar sozinho. “Me sinto confortável, mas no começo você sempre paga uma taxa fixa.”

Passou três anos na Komatsu Mitsui e depois voltou para ficar por mais onze, passando por diversas áreas até se tornar gerente de suporte. “Eles me apoiaram muito, principalmente para continuar os estudos”, diz Carolina. Em 2008 estudou Administração na Universidade Peruana de Ciências Aplicadas - UPC e em 2013 fez MBA no Centrum Católica graças a uma bolsa. Mas há outra carreira que Shimabukuro seguiu paralelamente e onde está sempre ao volante: a de piloto.

AMOR PELOS FERROS

Carolina lembra que um dia seu irmão Juan Carlos lhe contou que a havia inscrito para uma corrida. Era 2002 e na competição de autocross (corrida de habilidade que acontece em um circuito com obstáculos) as mulheres podiam se inscrever gratuitamente. “Gostei muito, fiz amigos que me emprestaram seus carros mais bem preparados para eu competir.” Depois veio uma das experiências que ele sempre lembra: o rali sul-americano em Huancayo, nas montanhas centrais do Peru.

Carolina participa de diversas competições automobilísticas. (Foto: arquivo pessoal)

Foi copiloto em diversas provas dessa modalidade que é feita em estradas de terra e em 2009, junto com o irmão, decidiram investir juntos nas corridas. “Ficamos endividados, foi uma odisséia chegar lá porque estávamos dirigindo o mesmo carro. Como foi alugado, estávamos preocupados em não bater na competição, então fomos devagar e acho que isso nos ajudou porque ficamos em quarto lugar.” Quando ela era criança, toda a família ia assistir às corridas do circuito de Santa Rosa. Agora, o pai dela sempre vai vê-la competir.

Há alguns anos aventurou-se no kart, participando na “La hora del kartismo 2012”, em Trujillo, onde ficou em segundo lugar. Em 2017 ingressou no Team Yokohama da TC Series by Honda, que compete em La Chutana, ao sul de Lima. Ao lado de outras quatro meninas, ela vem demonstrando que saber de carro não é uma questão de gênero e que o amor pelo ferro também é coisa de mulher.

A VIDA ATRÁS DO VOLANTE

Estar ao volante trouxe muita satisfação a Carolina. (Foto: arquivo pessoal)

Quando ela vai de sua casa em Surco para seu trabalho em Callao, Carolina dirige um Toyota compacto ou seu querido Honda Civic Si vermelho com placa da Hello Kitty. “Claro que tem que ser um carro japonês, não cabe outro”, brinca ele. Certos costumes permaneceram de seus quatro avós japoneses, como o butsudan , onde guardam fotos deles, e a culinária nikkei.

Com a Honda preta com a qual compete, o mesmo modelo que tem na vermelha, Carolina errou e capotou. Felizmente, ela saiu ilesa (ela logo estava rindo), mas mal pode esperar para dirigir novamente usando suas clássicas luvas rosa. “O automobilismo é um esporte muito caro e que precisa de muito apoio”, comenta, carregando seu capacete com o qual já atingiu mais de 160 quilômetros por hora.

Durante a semana, ele dirige devagar por causa do trânsito e porque sabe que grandes mudanças levam tempo. “Quando comecei a trabalhar na Komatsu Mitsui não havia vestiários femininos. Eu não tinha onde mudar. “Isso é algo que conseguimos mudar”, diz ela, também feliz por mais mulheres estarem interessadas em mecânica, carros e corridas, como suas companheiras de equipe de Yokohama ou as amigas que vão vê-la competir. Quebrar padrões na sociedade, quebrar preconceitos, é uma corrida para todos.

* Este artigo foi publicado graças ao acordo entre a Associação Japonesa Peruana (APJ) e o Projeto Descubra Nikkei. Artigo publicado originalmente na revista Kaikan nº 111 e adaptado para o Descubra Nikkei.

© 2017 Texto y fotos: Asociación Peruano Japonesa

Carolina Shimabukuro concursos Peru corrida (racing) esportes
About the Authors

Javier García Wong-Kit é jornalista, professor e diretor da revista Otros Tiempos. Autor de Tentaciones narrativas (Redactum, 2014) e De mis cuarenta (ebook, 2021), ele escreve para a Kaikan, a revista da Associação Peruana Japonesa.

Atualizado em abril de 2022


A Associação Peruano Japonesa (APJ) é uma organização sem fins lucrativos que reúne e representa os cidadãos japoneses residentes no Peru e seus descendentes, como também as suas instituições.

Atualizado em maio de 2009

Explore more stories! Learn more about Nikkei around the world by searching our vast archive. Explore the Journal
Estamos procurando histórias como a sua! Envie o seu artigo, ensaio, narrativa, ou poema para que sejam adicionados ao nosso arquivo contendo histórias nikkeis de todo o mundo. Mais informações
Novo Design do Site Venha dar uma olhada nas novas e empolgantes mudanças no Descubra Nikkei. Veja o que há de novo e o que estará disponível em breve! Mais informações