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“Isolados nos campos de batalha da América do Sul” O único livro japonês proibido no Brasil ~ O indomável jornalista Koichi Kishimoto Parte 1

Às 10h do dia 3 de março de 1948, detetives da Polícia Social e Política (DOPS = Delegacia Estadual de Ordem Política e Social, equivalente à polícia especial do ensino médio do Japão) visitaram repentinamente o internato "Gyousei Gakuen" no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Paulo. Ele ordenou que Koichi Kishimoto (pseudônimo: Okayo, 1898-1977), diretor da escola, que acabava de publicar seu livro ``Isolados nos Campos de Batalha da América do Sul'' (doravante denominado ``Senno'' ) aparecer. Ele ficou preso por cerca de um mês, começando no dia 21, e foi acusado de acusações criminais por ser uma “ameaça nacional”. Ele passará os próximos 10 anos lutando contra um julgamento de deportação. No entanto, mesmo que você leia “70 Anos de História da Imigração” e “80 Anos de História” compilados por intelectuais que representam a comunidade nipo-americana, você não encontrará nenhuma menção a palavras como “Koichi Kishimoto”. e ``Hino no Hoshi.'' Ele era um jornalista que foi apagado da história oficial da comunidade nipo-americana.


Um best-seller que vendeu 5.500 exemplares imediatamente após o fim da guerra.

Capa de “Isolados no Campo de Batalha da América do Sul”

A primeira edição de 2.000 exemplares de Senno foi publicada em setembro de 1947 e esgotou em 10 dias. Uma segunda edição de 5.000 exemplares foi posteriormente revendida em janeiro de 1948, e 3.500 exemplares foram vendidos em três meses. Ele foi preso em março, logo depois que seu livro sobre suas experiências de perseguição aos imigrantes japoneses durante a guerra ganhou a simpatia generalizada e se tornou um best-seller entre seus compatriotas.

Ao consultar o registro DOPS Kishimoto (10590) no Arquivo Público do Estado de São Paulo, encontrei sentença datada de 21 de maio de 1957. As acusações contra Kishimoto são de que ele “prejudicou o interesse nacional ao publicar um livro que atacou o Brasil, incitou tensões raciais e promoveu o isolamento do povo japonês”, e “privou-o do direito de naturalizar-se e forçou-o a deixar o país.'' O Ministério Federal de Segurança Pública apresentou queixa criminal contra o suspeito.

Um livro escrito por um imigrante e um livro japonês escrito em língua estrangeira. O que estava escrito ali que tocava nos pontos-chave do poder estatal da época?


Uma existência única que está sendo reavaliada no Japão após sua morte

Uma placa do presidente Koichi Kishimoto pendurada no secretariado da Associação da Prefeitura de Niigata

Kishimoto nasceu na cidade de Shibata, província de Niigata, em 1898. Através da Nippon Rikikokai, foi para o Brasil em 1922 e começou a ensinar japonês na colônia Uetsuka. Mudou-se para São Paulo e fundou o internato ``Gyousei Gakuen'' em 1932, e a partir de 1936 começou a publicar o boletim informativo da escola ``Gyousei Gakuen Newsletter'' (18 páginas) duas vezes por ano.

No início era um boletim informativo para os pais, mas o conteúdo gradualmente mudou para o público em geral e, a partir de fevereiro de 1940, desenvolveu-se na revista bimestral para jovens ``Hino'' (32 páginas, impressa) e, na edição 18, teve 1.200 leitores e chegou a ser realizado. No entanto, com a eclosão da Guerra Europeia, foi emitida uma proibição de livros estrangeiros em 1941, e a publicação foi suspensa em agosto do mesmo ano.

Após a guerra, foi republicada como uma revista bimestral "Hino no Hoshi" em agosto de 1950. A revista, que durou 18 anos só depois da guerra e contava com 5.000 assinantes, foi uma das revistas de Colonia, que durou 23 anos (incluindo os cinco anos anteriores à guerra), numa época em que revistas que duravam mais de três anos eram raros.(Comunidade japonesa) Ele é um representante do mundo das revistas.

Publicou um total de oito livros, incluindo “Isolados nos Campos de Batalha da América do Sul”, que foi proibido pelo DOPS. Além disso, na província de Niigata, em 1998, 21 anos após a morte de Kishimoto, foi publicada uma biografia biográfica intitulada “Koichi Kishimoto, Pioneiro da Colônia Brasileira” (Tokitsugu Matsuda, Associação de Famílias de Migrantes Estrangeiros da Prefeitura de Niigata).

Além disso, no Japão, em 2002, “Isolado nos Campos de Batalha da América do Sul” foi reimpresso por Tofusha como uma “obra-prima escondida”. Nenhum outro autor de Colônia escreveu um livro que tenha sido reavaliado em seu país natal, 30 anos após sua morte.


Um julgamento de deportação traumático para a família

Kachie Aono diz: ``Hagino-san (sua esposa) passou por momentos difíceis.''

É o único local público no Brasil onde uma fotografia desse tipo de Kishimoto ainda é exposta no alto. Esta é a entrada da Prefeitura de Niigata, em São Paulo. Ele serviu como terceiro presidente de fevereiro de 1969 a janeiro de 1971.

O parente de Kishimoto, Kachie Aono (então com 84 anos na cidade de Shibata, província de Niigata), entrevistado em 19 de março de 2013, disse: “Ele era um grande fazendeiro conhecido localmente como Kishimoto-sama”. Quando questionado sobre o julgamento de deportação, ele lembra: "Não falamos muito sobre o julgamento. Também não falamos muito sobre ir para Cadia (centro de detenção)."

No dia 16 de abril de 2011, quando entrevistei o segundo filho de Koichi Kishimoto, Isaac (segunda geração, na época com 77 anos) e sua esposa Setsuko (segunda geração, 72 anos) em sua casa na zona sudoeste da cidade de São Paulo, eles disse: “A história do julgamento está dentro da família”. “Mas eu não queria. A partir de então, ninguém quis falar sobre aquela época”. O incidente foi profundamente traumático para a família.

Segundo filho Isaac (à direita, segunda geração, 77 anos na época) e sua esposa Setsuko (foto tirada em 16 de abril de 2011)

Kishimoto foi um defensor da residência permanente e naturalizou-se precocemente. Além disso, tiveram seis filhos brasileiros, alguns dos quais serviram nas forças armadas. Para deportar tal pessoa, o direito de naturalização de Kishimoto deve primeiro ser revogado e depois ele deve ser deportado. O objeto do julgamento foi a privação do direito de naturalização.

Por ser um país de primogenitura, se uma criança nascer no Brasil, ela não poderá ser deportada mesmo que os pais sejam estrangeiros. O governo brasileiro continuou a recusar o pedido do governo britânico para extraditar Ronald Biggs, um britânico famoso por seu papel no filme “O Grande Roubo do Trem”, porque ele teve um filho com uma brasileira. É extraordinário que cheguem ao ponto de lhes retirar o direito à naturalização. Ele parecia ser considerado uma pessoa muito perigosa.

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© 2015 Masayuki Fukasawa

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About the Author

Nasceu na cidade de Numazu, província de Shizuoka, no dia 22 de novembro de 1965. Veio pela primeira vez ao Brasil em 1992 e estagiou no Jornal Paulista. Em 1995, voltou uma vez ao Japão e trabalhou junto com brasileiros numa fábrica em Oizumi, província de Gunma. Essa experiência resultou no livro “Parallel World”, detentor do Prêmio de melhor livro não ficção no Concurso Literário da Editora Ushio, em 1999. No mesmo ano, regressou ao Brasil. A partir de 2001, ele trabalhou na Nikkey Shimbun e tornou-se editor-chefe em 2004. É editor-chefe do Diário Brasil Nippou desde 2022.

Atualizado em janeiro de 2022

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