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https://www.discovernikkei.org/pt/journal/2015/9/3/festival-do-japao/

Festival do Japão

O Festival do Japão é um dos principais eventos da comunidade nikkei no Brasil, especialmente no que se refere a espaço físico, quantidade de atrações e número de visitantes. Em 2015, chegou à sua décima oitava edição.

O evento é organizado pelo Kenren, a federação das associações de províncias do Japão no Brasil. Neste ano, o Festival do Japão aconteceu nos dias 24, 25 e 26 de julho.

A organização estimou a quantidade de visitantes em cerca de 180 mil pessoas. A entrada é paga, mas todas as atividades internas são gratuitas. Há transporte gratuito entre o evento e a estação de metrô mais próxima.

A cada edição, os organizadores escolhem um tema, como sustentabilidade, saúde, felicidade etc. Desta vez, a escolha foi uma homenagem aos 120 anos do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação firmado entre Brasil e Japão em 1895.

O tema de 2015 foi o aniversário de 120 anos do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação assinado entre Brasil e Japão.

O primeiro Festival do Japão aconteceu em 1998 em comemoração aos 90 anos da imigração japonesa no país. O objetivo, desde então, continua sendo a divulgação da cultura japonesa, com a gastronomia típica das províncias japonesas como principal atrativo.

A primeira vez em que fui ao festival foi em 2003, ano em que comecei a participar mais ativamente da comunidade nikkei. Na ocasião, fui apenas como visitante. No ano seguinte, fui como voluntário da associação de Hokkaido para ajudar amigos.

A partir de 2006, passei a fazer parte do Nara Kenjinkai do Brasil. Nara é uma das províncias de origem de minha família, assim, eu havia me candidatado a uma bolsa de estudos. Um dos requisitos era a ajuda nas atividades da associação; entre elas, o Festival do Japão.

Em 2015, a maior parte das atividades aconteceu em ambientes fechados.

Os voluntários dos estandes ajudam desde muito antes do evento. É preciso definir os pratos que serão servidos, convocar mais voluntários, elaborar lista de tarefas, fazer cartazes, criar decoração e comprar ingredientes. Nos três dias de festival, é preciso transportar o material, limpar o estande e instalar equipamentos (fogão, grelhas, panelas). No fim do evento, igualmente, é preciso limpar tudo, embrulhar e levar embora.

No caso dos voluntários dos kenjinkais, é preciso também saber transmitir informações sobre a província, tais como localização, pontos turísticos e há até quem pergunte sobre a economia local. Naturalmente, o que mais os visitantes querem saber é sobre o prato típico servido. É preciso saber explicar ingredientes e também contar as origens e alguma curiosidade.

Atrativos

Desfile de Taiko.

Ao lado dos estandes de comida, há outras atrações no Festival do Japão. Apresentações de danças típicas, artes marciais, workshops, exposições e shows com cantores e grupos da comunidade nikkei.

Um espaço especial é dedicado à terceira idade, com atividades planejadas especificamente para esse público. “Nós começamos apenas como uma área de descanso para o idosos. Depois, fomos incorporando várias coisas. Foi aumentando o número de estandes, com vários serviços, também apresentações e o campo de gateball. Depois, incluímos um auditório com palestras para idosos e, mais recentemente, palestras para cuidadores de idosos. Tentamos trazer cada vez mais novidades, inclusive sobre produtos novos para idosos”, conta Willian Suzuki, 53 anos, nisei, há nove anos coordenador do espaço.

Para facilitar a comunicação, o espaço conta com voluntários que falam português e japonês tanto no atendimento como nas palestras. ”O cuidado com o idoso é um dos valores da cultura japonesa”, completa Suzuki.

Da mesma forma, há um espaço destinado às crianças, com brincadeiras e atividades educativas inspiradas na cultura japonesa. As crianças podem aprender a fazer origami, kirigami e pipas, além de participarem de gincanas e outras brincadeiras.

Desfile de Taiko.

“Nossa ideia é receber as crianças, tanto descendentes como não descendentes, e mostrar para elas aspectos da cultura japonesa na linguagem delas. Em cada atividade, tentamos colocar uma informação nova da cultura japonesa. Por exemplo, para fazer uma pintura, a gente coloca um ícone da cultura japonesa, como um daruma. No próprio desenho, está escrito o que o daruma significa e a lenda desse talismã. A informação passa para os pais também, pois muitas vezes o filho não entende ainda o que está escrito, mas consegue captar o desenho. Com isso, acho que essa informação vai ficando gravada na memória das crianças”, afirma Milton Nakabayashi, 62, sansei, coordenador do Espaço Criança há 12 anos.

As artes tradicionais também têm seu espaço garantido. Durante o festival, acontecem workshops e exposições de shodo, ikebana, origami, kirigami, cerimônia do chá, sempre com participação do público.

Desfile de Taiko.

Daniel Kasa, 32, yonsei, é voluntário no estande de shodo há três anos. Ele mesmo iniciou a prática da caligrafia tradicional japonesa após uma visita ao Festival do Japão há oito anos. “É importante manter nossa cultura, nossa raiz nikkei. Tenho observado que muitos nikkeis não sabem falar nem escrever [em japonês]. Com um estande de shodo aqui no festival, creio que pode criar uma curiosidade, assim como aconteceu comigo”, explica.

Kasa conta que o estande atrai também não descendentes, frequentemente motivados pela vontade de saber como se escreve o próprio nome em japonês. “O ideograma é esteticamente bonito e tem um significado”, completa.


Visitantes

Tabatha Marcos, 16, de ascendência africana, visitou o evento pela primeira vez. “Estou encantada com tudo isso. Tenho muito interesse pela cultura japonesa. Eu gosto muito dos animes, da cultura em si e das histórias asiáticas”, conta a jovem.

Clara Teles, 44, também de ascendência africana, levou as filhas pela segunda vez ao festival. “Minhas filhas gostam muito da cultura japonesa. Gostamos das comidas. Minha filha gosta da ‘sopa do samurai’ [Houtou]. Eu gosto de sushi e sashimi. Não sou muito fã das frituras”, conta.

Além da culinária, a família também mostra interesse por outros assuntos. “Gostamos muito de sumie, das dobraduras, das massagens. Gosto de tudo que tem aqui”, completa Clara.

Tokushima Kenjinkai ofereceu takoyaki .

Bruna Serafim, 19, de família portuguesa, estuda o idioma japonês há cinco anos. “Com o festival, a gente pode aprender coisas novas, que no curso não se aprende. E também ter contato com os descendentes e os próprios japoneses que vêm para cá”. Em sua terceira visita ao evento, ela conta que tem interesse na dança japonesa, “a tradicional e também as modernas que têm a música japonesa”.

Como estudante de japonês, ela destacou a importância de haver folhetos explicativos em ambos os idiomas. “Não é porque estamos no Brasil que tudo tem que estar em português, tem que ter também em ‘nihongo’”.

Gabriel dos Santos, 26, de ascendência portuguesa e africana, foi ao festival pela primeira vez, a convite de amigos. Ele se disse surpreso pelo tamanho do evento, pois imaginava que seria apenas algumas barracas, afinal, nunca vira divulgação.

Apreciador da culinária japonesa, Santos escolheu o takoyaki, que ele já conhecia, e o okowa. “Tem muita comida boa, muitas opções, inclusive alguns pratos que eu nunca tinha visto”, comentou.

Shows

Taiko foi um dos poucos shows realizados ao ar livre.

No Festival do Japão, acontecem apresentações de artistas japoneses “do Japão” também. No Brasil, é preciso fazer esse pequeno e redundante acréscimo na distinção, pois a palavra “japonês” se refere também aos nikkeis.

A Fundação Japão organizou a vinda do grupo Bugaku-za, que apresentou de forma teatral a arte dos samurais, com elementos de artes marciais e do teatro nô.

A cantora Tsubasa Imamura notabilizou-se por cantar clássicos da música brasileira em português e japonês. Tsubasa vem com regularidade ao Brasil e se apresenta em outros eventos também, assim como a cantora Mariko Nakahira, já bem conhecida na comunidade nikkei.

Nesta edição, aconteceu o Akiba Cosplay, que realizou demonstrações de cosplayers baseados em personagens de animes, mangás e games do Japão. A atividade fez parte do Akiba Space, área dedicada à cultura pop japonesa, reunindo games, mangás, ilustração e moda jovem.

O Akiba Space apresentou a cultura pop no evento.

O festival também recebe o concurso Miss Nikkey, cuja proposta é escolher a mais bela nipo-descendente do Brasil. Ao longo do ano, são realizadas etapas regionais em todo o país. As finalistas, enfim, desfilam no Festival do Japão. A vencedora recebe prêmios como viagens, joias e outros presentes dos patrocinadores.

Governo do Japão

Entidades ligadas ao governo japonês também participaram do Festival do Japão.

A JICA (Japan International Cooperation Agency) divulgou suas bolsas de estudos e organizou uma exposição a respeito dos resultados dos programas desenvolvidos em parceria com o Brasil.

O estande da Fundação Japão abrigou uma exposição relacionada às suas atividades, com foco em imagens e objetos trazidos pelo grupo Bugaku-za, além da divulgação dos próximos eventos.

O Ministério da Agricultura, Silvicultura e Pesca do Japão promoveu uma série de palestras sobre gastronomia japonesa, abordando temas como preparo de sushi e doces tradicionais japoneses.

Palestra explicou como fazer sushi.


Encontro de amigos

O Festival do Japão é considerado, atualmente, o principal evento da comunidade nikkei no Brasil; é o que recebe mais visitantes, tem mais patrocinadores e aparece um pouco mais nos meios de comunicação fora da comunidade.

Acima de tudo, é uma oportunidade de encontrar parentes e amigos, que estão lá ajudando nos estandes dos kenjinkais, participando das apresentações artísticas ou apenas passeando. Nesse ponto, o Festival do Japão cumpre seu papel como autêntico matsuri.

Teru teru bozu são amuletos que evitam dias chuvosos. Todo festival Nikkei tem isso.

© 2015 Henrique Minatogawa

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About the Author

Henrique Minatogawa é jornalista e fotógrafo, brasileiro, nipo-descendente de terceira geração. Sua família veio das províncias de Okinawa, Nagasaki e Nara. Em 2007, foi bolsista Kenpi Kenshu pela província de Nara. No Brasil, trabalha na cobertura de diversos eventos relacionados à cultura oriental. (Foto: Henrique Minatogawa)

Atualizado em julho de 2020

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