Na manhã do primeiro domingo de janeiro, eu estava indo ao culto na igreja, quando encontrei o Joaquim pelo caminho. Joaquim é um lindo cãozinho beagle e a primeira vez que nos vimos foi três anos atrás.
Cumprimentei com um “Feliz Ano-Novo” e o dono do Joaquim respondeu: “Omedetô”, inclinando levemente a cabeça, em sinal de respeito. Confesso que fiquei surpresa, pois os brasileiros não têm o costume de cumprimentar fazendo reverência e também porque a palavra japonesa “omedetô” não é tão conhecida como “arigatô” e “sayonará”.
Dois dias depois, pela manhã, encontrei o Joaquim novamente. O cãozinho estava começando o seu passeio e parecia dizer “Depressa, depressa”. Então, eu disse “Bom dia!” e já ia indo para a direção da feira, quando o dono dele me disse: “Omedetô gozaimasu”, curvando-se no melhor estilo oriental.
Fiquei emocionada! Quanta gentileza e dessa vez até acrescentou o “gozaimasu”, que é um termo que demonstra formalidade e respeito.
Na primeira feira do ano não havia tanto movimento como há normalmente, mas em todo lugar eu via as pessoas se cumprimentando alegremente, desejando que este também seja um bom ano para todos.
Nisto, alguém disse “Omedetô” e outro alguém retribuiu com “Omedetô”. Na mesma hora me virei e vi dois feirantes que nem eram nikkeis, misturando japonês na conversação como se isto fosse a coisa mais natural do mundo!
O título desta série – OHAYO Bom Dia – nasceu de uma conversa entre uma nikkei e uma senhora brasileira. Foi assim: uns vinte anos atrás, ao ver a vizinha no elevador eu disse “Bom dia” e ela, uma senhorinha de olhos azuis de origem italiana, retribuiu com um sorriso: “Ohayô”! Nesse momento, surgiu a ideia do título “Ohayo Bom Dia” que acabou virando minha marca registrada.
Mas foi só recentemente que algumas palavras japonesas se tornaram familiares aos ouvidos dos brasileiros em geral, o que é um fato que me alegra muito.
E fazendo uma lista dessas palavras, verifiquei que os nomes de pratos da culinária japonesa lideram o ranking. Assim, o yakisoba, tempura, sushi, sukiyaki são bastante conhecidos pelos brasileiros.
Por outro lado, o molho shoyu e o queijo de soja tofu ganharam um sotaque sutil e, a mim, soam como “choyuu” e tofuu”!
O macarrão instantâneo também é grandemente apreciado por todos, mas o nome pelo qual é conhecido não é a palavra japonesa ramen, mas sim “Miojo”, que é a marca do produto. Outro dia, vi uma jovem usando uma camiseta onde estava escrito: “Eu só sei fazer miojo”.
Recentemente, pratos como temaki, soba e robata-yaki também caíram no gosto dos brasileiros e surgiram restaurantes especializados que foram batizados como “temakeria”, “sobaria” e “robataria”. São palavras novas que nasceram pela junção das palavras japonesas temaki, soba e robata e a terminação –ria da língua portuguesa.
Outra coisa interessante foi quando vi uma propaganda em revistas e também na Internet anunciando almofadas com o nome de “futon”1. Que eu saiba, almofada em japonês é “zabuton”2...
Fiquei curiosa e resolvi fazer uma pesquisa na Internet com a frase “Onde comprar futon” e qual não foi a minha surpresa ao descobrir que existem mais de uma dezena de lojas e marcas de futon! Acessei alguns desses sites e fiz outra descoberta: que diversos produtos estão à venda com o nome de “futon”.
De uma maneira geral, eles estão assim divididos: 1) Colchão futon; 2) Sofá-cama futon; 3) Almofada futon; 4) Futonete; 5) Futon turco.
Quando é que eu ia imaginar que a palavra japonesa futon teria essa classificação e estaria presente no dia a dia dos brasileiros dessa forma!
Notas:
1. acolchoado, edredom
2. almofada
© 2014 Laura Honda-Hasegawa