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Lembrando o Terremoto e Tsunami de Tohoku: Uma Entrevista com Derek Yamashita da Empresa de Turismo The Hidden Japan – Parte 2

Desenvolvimento do Turismo

Leia a Parte 1 >>

INDO ALÉM DO TRABALHO DE DEREK EM TOHOKU

Seu trabalho no Hidden Japan foi expandido para abranger a realização de eventos no Japão e nos Estados Unidos, os quais comemoram as nossas culturas e ajudam a disseminar a compreensão intercultural. O que levou você a criar esse objetivo para a sua empresa?

Sendo um nipo-americano que cresceu na comunidade nipo-americana, eu percebi que a cultura japonesa que vemos em Los Angeles é apenas uma janelinha para o Japão. Mesmo depois de morar aqui no Japão por 6 anos, volta e meia eu fico boquiaberto com as coisas que vejo e vivencio por aqui no ramo do turismo, e eu quero mostrar tudo isso nos Estados Unidos. Isso inclui inspirar as pessoas a desenvolver interesse pelas regiões do Japão, como Yamagata ou Niigata, que apresentamos nos nossos eventos, como também incentivar os viajantes a visitar essas regiões quando vierem ao Japão no futuro.

Como nipo-americano, eu me sinto muito feliz de poder combinar os dois mundos da minha vida: a minha criação nos Estados Unidos e a minha vida no Japão. Essa é uma faceta especialmente divertida do meu trabalho, já que foi maravilhoso ver todos tão contentes nesses eventos, tanto os chefs japoneses do Japão quanto todos os participantes que compareceram aos nossos eventos com a JACCC em 2019.

Ao passo que você vem tentando preencher as lacunas culturais entre os EUA e o Japão, por que uma parte desse foco está na área de Los Angeles e no sul da Califórnia?

Por duas razões principais:

  1. Porque eu cresci em Los Angeles e conheço a comunidade nipo-americana de lá, a qual serve como uma rede de apoio essencial para que possamos realizar eventos tão elaborados.
  2. Porque o sul da Califórnia tem uma grande população e afinidade com a cultura asiática e japonesa, graças em grande parte ao bairro de Little Tokyo [no centro de Los Angeles] e à robusta comunidade nipo-americana da região. Eu acho que isso torna mais fácil as pessoas comparecerem a eventos e também facilita a realização de eventos culturais de maior alcance, já que muita gente da área têm um entendimento básico da cultura e da cozinha japonesa.


Qual é a parte mais interessante ou especial de trabalhar na sua empresa The Hidden Japan?

Acho que a parte mais especial na administração dessa empresa é nos ver crescendo com o passar dos anos. E, finalmente, depois de um desafiador empecilho final com a pandemia, nós estamos vendo agora um crescimento explosivo, como também um reconhecimento internacional. Quando eu comecei essa empresa, parecia que eu tinha me despencado de um penhasco e estava em queda livre, com tantas incertezas e tantos obstáculos.

Por exemplo, no nosso primeiro ano, eu quase tive a renovação do meu visto rejeitada porque os funcionários da imigração duvidaram que o meu negócio fosse viável. Mesmo os locais, por mais solidários que fossem, duvidavam que turistas fossem realmente querer vir para Yamagata quando existem lugares tão maravilhosos como Kyoto, Tóquio e Osaka no Japão. E logo quando a gente finalmente construiu uma base sólida para a nossa empresa e começamos a crescer, veio a pandemia e fiquei arrasado porque os três anos que passamos sacrificando tudo por esse trabalho iriam por água abaixo.

Teve muitos marcos desde então, mas em 2022 nós fomos escolhidos como os parceiros no Japão do novo serviço de planejamento de viagens do Lonely Planet, e também conseguimos várias outras parcerias importantes com agências de viagens no exterior que nos permitiram expandir rapidamente a nossa equipe, e até mesmo abrir um outro escritório para aumentar ainda mais o nosso negócio. A ideia que tivemos cinco anos atrás naquele blogzinho – que os turistas gostariam de ver o lado rural do Japão e vivenciar as coisas como um local – demonstrou ser um sucesso. E hoje temos condições de oferecer empregos e um impactante apoio econômico para a região pela qual me apaixonei e que agora considero como o meu lar.


Como foi trabalhar com o Comitê Olímpico de Tóquio para ajudar a promover o turismo?

Isso também foi um marco para a nossa empresa. Foi uma honra sermos escolhidos para retratar e representar as regiões do Japão e apresentá-las ao resto do mundo. Fomos escolhidos por causa da nossa experiência em trabalhos promocionais no passado, e além disso eu sou fotógrafo comercial e cinegrafista no ramo de viagens, o que foi um dos principais fatores para que isso acontecesse. Esse trabalho me permitiu viajar por todo o Japão, o que serviu para me dar novas ideias na criação de conteúdo de cunho turístico que eu posso aproveitar no meu negócio, e também me ajudou a bolar novas rotas pelo Japão para os nossos parceiros do ramo no exterior.


Você gostaria de expandir o seu trabalho com várias outras organizações? E como esse trabalho ajudou você a evoluir como pessoa, como proprietário de uma empresa, e no seu empenho em preencher as lacunas culturais entre o Japão e os Estados Unidos?

Hum ... isso é um assunto longo, mas vou dar um resumo. O Programa de Cidades Irmãs de Huntington Beach foi a minha primeira experiência verdadeira com o Japão, o que despertou em mim uma paixão pelo Japão. A JASSC me proporcionou uma experiência essencial de trabalho com temas japoneses, como também a chance de canalizar a minha arrecadação de fundos para algo importante.

O Programa Terasaki me deu uma visão profunda do espírito do povo japonês, que eu vi em condições tão horríveis, e aprofundou a minha paixão e amor pelo Japão. O trabalho com o Programa Terasaki me inspirou a querer me formar em Estudos Globais e a fazer faculdade no exterior. A bolsa da Bridging Foundation me ajudou a ter liberdade financeira durante os meus estudos no exterior, me dando a chance de viajar pelo Japão e de trabalhar como voluntário em Tóquio quase que duas vezes por mês.

Eu acho uma boa ideia fortalecer as minhas relações com a comunidade nipo-americana e com grupos como o JACCC e o Museu Nacional Japonês Americano (JANM), se possível. Nossa empresa tem a capacidade de trazer artistas – que são realmente fantásticos – e exposições culturais para os Estados Unidos através dos nossos contatos com o governo e no ramo do turismo. Só que não vamos poder fazer nada sem bons parceiros americanos para nos ajudar a realizar esses empreendimentos.

Jantar da JACCC

Um dos meus objetivos de vida é usar a minha posição no Hidden Japan e como nipo-americano para servir como uma ponte entre os dois países, organizando eventos promocionais como os que já fiz e ajudando a encorajar os nipo-americanos e outros mais no sul da Califórnia a fazer viagens marcantes e sustentáveis quando vierem ao Japão.


Como que o seu trabalho fez você refletir sobre as suas experiências como um nipo-americano da quarta geração que cresceu no sul da Califórnia? Como isso influenciou o seu trabalho no Hidden Japan e nos seus outros projetos?

Com toda a sinceridade, o fato de eu ter me estabelecido aqui no Japão me fez sentir mais americano do que quando eu morava nos Estados Unidos. Eu agora sempre me apresento como americano e propositalmente quebro uma norma cultural daqui, me apresentando com o meu nome de batismo ao invés do meu sobrenome japonês, mesmo em alguns ambientes de negócios. Eu não quero que as pessoas aqui no Japão achem que sou japonês, apesar de eu poder esconder o fato de ser americano em muitos contextos.

Aqui, eu mergulhei a fundo em muitos lados do Japão que os estrangeiros não veem, especialmente no ramo empresarial, o que me fez entender que eu dou grande valor à minha criação e identidade como americano, apesar disso às vezes dificultar a minha vida aqui. Os valores e perspectivas que adquiri por ter sido criado como nipo-americano me oferecem o melhor dos dois mundos. A minha familiaridade com a cultura japonesa me deu uma base sólida para aprender e me adaptar à vida no Japão, algo incrivelmente difícil para qualquer residente estrangeiro.

Ao mesmo tempo, a minha formação e modo de pensar como americano me permitem ver as coisas com uma visão diferente. Além disso, eu posso abordar projetos como um americano que pode ver as coisas tanto através da perspectiva japonesa quanto da americana. Isso me traz muitas oportunidades de viajar pelo Japão dando dicas de turismo, como também de criar experiências turísticas interessantes.


Você está trabalhando em algum outro projeto atualmente – e com animação para vê-lo concluído?

Estou sim. Nós temos mais de 45 reservas de grupos de turismo personalizados para a primavera de 2023. Esse é o nosso maior número até hoje e muitos desses grupos estarão passando por Tohoku! Tem sido um grande desafio para a minha equipe dar conta de tudo isso, mas essa foi a concretização do que sempre quisemos conseguir com o Hidden Japan – trazer turistas para Tohoku e criar empregos aqui. Também estamos planejando uma importante colaboração com a Prefeitura de Niigata e o JACCC. Eu também quero muito fazer um evento com o JANM no futuro.


Tem mais alguma coisa que você gostaria que os leitores soubessem sobre o seu trabalho?

Temos um canal no YouTube caso as pessoas queiram ter uma ideia melhor das experiências e do tipo de trabalho que oferecemos.

* * * * *

Derek Yamashita é o co-fundador e gerente da empresa de turismo The Hidden Japan, a qual ajuda a trazer viajantes para diferentes áreas da região de Tohoku. Além disso, ele organiza eventos interculturais para cidadãos japoneses e americanos. Maiores informações sobre The Hidden Japan podem ser encontradas no site thehiddenjapan.com. Além do seu papel no Hidden Japan, Derek ainda continua a dar assistência aos residentes da região de Tohoku.

 

© 2023 Japanese American National Museum

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Sobre esta série

Em Japonês, kizuna significa fortes laços emocionais.

Esta série de artigos tem como propósito compartilhar as reações e perspectivas de indivíduos ou comunidades nikkeis sobre o terremoto em Tohoku Kanto em 11 de março de 2011, o qual gerou um tsunami e trouxe sérias consequências. As reações/perspectivas podem ser relacionadas aos trabalhos de assistência às vítimas, ou podem discutir como aquele acontecimento os afetou pessoalmente, incluindo seus sentimentos de conexão com o Japão.

Se você gostaria de compartilhar suas reações, leia a página "Submita um Artigo" para obter informações sobre como fazê-lo. Aceitamos artigos em inglês, japonês, espanhol e/ou português, e estamos buscando histórias diversas de todas as partes do mundo.

É nosso desejo que estas narrativas tragam algum conforto àqueles afetados no Japão e no resto do mundo, e que esta série de artigos sirva como uma “cápsula do tempo” contendo reações e perspectivas da nossa comunidade Nima-kai para o futuro.

* * *

Existem muitas organizações e fundos de assistência estabelecidos em todo o mundo prestando apoio ao Japão. Siga-nos no Twitter @discovernikkei para obter maiores informações sobre as iniciativas de assistência dos nikkeis, ou dê uma olhada na seção de Eventos. Se você postar um evento para arrecadar fundos de assistência ao Japão, favor adicionar a tag “Jpquake2011” para que seu artigo seja incluído na lista de eventos para a assistência às vítimas do terremoto.

Mais informações
About the Author

Estabelecido em 1985, o Museu Nacional Japonês Americano (Japanese American National Museum, JANM) promove a compreensão e a apreciação da diversidade étnica e cultural dos Estados Unidos ao compartilhar as experiências dos nipo-americanos. Situado no bairro histórico de Little Tokyo, no centro de Los Angeles, o JANM dá voz aos nipo-americanos e serve como um fórum aberto para que todos possam explorar o seu próprio patrimônio e cultura. Desde a sua abertura ao público em 1992, o JANM realizou mais de 70 exposições nas suas instalações e enviou 17 exposições para importantes museus culturais nos Estados Unidos, Japão e América do Sul. Para maiores informações, visite o site janm.org ou siga @jamuseum nas redes sociais.

Atualizado em março de 2023

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