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Verduras trazidas pelos imigrantes japoneses - Parte1

Teatro Amazonas

No centro da cidade de Manaus há um ponto turístico muito popular que é o Teatro Amazonas. A parede rosada e o telhado em formato de cúpula decorado com a bandeira brasileira impressionam bastante. Na época de natal, há a apresentação de ópera realizadapor povos locais. Neste dia, cantores da região cantam musicas de natal acompanhados da orquestra dentro do Teatro Amazonas. Todos gostam de assistir as apresentações anuais. Em 2011 tive a oportunidade de assistir junto com a minha esposa. A imagem de Jesus Cristo apareceu sobre a cúpula da casa de ópera. Anjos voavam e atores escalavam as paredes do Teatro Amazonas. Toneladas de fogos de artifícios desenharam o natal de Manaus. Foi maravilhoso!

O Teatro Amazonas é um prédio que tem valor tanto histórico quanto cultural. No final do século 19, houve um grande desenvolvimento econômico devido à economia da borracha. Tal crescimento ocorreu a uma velocidade vertiginosa sem precedentes. Sim! A cidade Manaus era realmente um paraíso na selva. Este fato ocorreu bem antes da chegada dos imigrantes japoneses à Amazônia.

Ocorreram muitas transformações na cidade a tal ponto de se transportar um grande teatro de ópera da Europa direitamente para a cidade no meio da selva. Telhas, madeiras, pedras e janelas... tudo foi trazido de embarcação. Cada cadeira dentro do teatro tem decoração cuidadosa e bonita. No teto do teatro há um desenho retratando a vista que se tem da Torre Eiffel quando vista por baixo assim como anjos voando pelo céu. Cortinas, mobílias e acessórios... todas as coisas lá são indescritivelmente maravilhosas.

Os bondes trafegavam pelas ruas de paralelepípedos. Os homens se reuniam na cidade para ganhar dinheiro e as mulheres se reuniam para procurar homens endinheirados. Passado algum tempo, a área de produção da borracha natural mudou-se para o Sudeste da Ásia. Foi a época em que Manaus passou por um inverno tenebroso devido a crise econômica. Porém, no século 20, foi construída uma das melhores zonas industriais do Brasil e a cidade conseguiu recuperar o vigor novamente.

O Teatro Amazonas tem acompanhado o movimento histórico da cidade. Hoje, eventos culturais são realizados e é aberto ao público em geral. Tive a oportunidade de subir ao palco deste teatro junto ao grupo de taikô (tambor japonês) e dança yossakoi chamado de Fuuga-Kazan em um evento sobre a cultura japonesa. Cantar o hino nacional do Japão neste Teatro foi uma experiência que será inesquecível. Lá assisti a vários outros tipos de evento como, por exemplo, a apresentação de orquestra de violões tocados por músicos locais e um festivalde filmes chamado Amazonas Filme Festival. Que saudade!

“Antigamente vendia muitas verduras perto daqui... ”

Dirigindo seu carro para mostrar o centro da Manaus para mim, o senhor Koichi Koba disse. Na época, Ele era o diretor executivo da Associação Nipo-Brasileira Amazônia Ocidental. Ele nasceu e cresceu na provincia Kagoshima na ilha de Kyusyu e quando tinha 10 anos se mudou para o Brasil junto com a sua família. Eles atravessaram o mundo de navio no, então chamado, Argentina-Maru.

“Tsuruta san, consegue me encontrar nesta foto? ”

Quando parando o carro no sinal vermelho, ele mostrou uma foto e perguntou.

“Eu acho...... que esse é você! ”

“Bingo! Isso mesmo! Mas como soube?”

A foto foi tirada em Kobe que era uma base dos imigrantes. Antes e depois da guerra muitos japoneses partiram para America do sul do porto de Kobe. Na foto, um menino que é um pouco maior do que as outras crianças aparecia com uma expressão facial tensa. Eu acho que não mudou nada. A cara do menino é totalmente igual ao do senhor Koba.

“No navio de imigrantes gastamos mais de 40 dias e eu não consegui me acostumar com a comida. Não tinha apetite por causa do mau cheiro dos pratos... ”

No dia 10 de novembro, chegaram à selva 17 familias, 117 pessoas a um local que fica a 40 quilômetros de Manaus. Este lugar é conhecido como a Colônia Efigênio de Salles e mais parecia “um inferno de verde”.  A estrada para a cidade ainda não era asfaltada. Uma vez por semana um caminhão da agência estadualde Agricultura ia e voltava para levar alimentação e produtos. Os imigrantes cultivaram a terra e plantaram verduras.

Sob sol forte na selva tropical, enfrentando a barreira do idioma, costumes e doenças de um país estrangeiro, eles estabeleceram uma nova vida. Plantaram verduras, fizeram uma cooperativa, pensaram na educação das futuras gerações. As verduras feitas por eles mesmos eram carregados em um caminhão e iam em direção ao centro da cidade de Manaus. Percorriam estrada de terra batida para vender verduras todas as semanas.

Eu disse, 

“No grande Teatro Amazonas! Nossa! Imigrantes japoneses vendiam verduras aqui.... Não acredito. ”

“Sim. Sim. Mas foi difícil né? ”

Ele começou a contar a historia dele.

Parte 2 >>

 

© 2015 Toshimi Tsuruta

Sobre esta série

O autor Toshimi Tsuruta foi como voluntário a Manaus, Amazonas, onde há o maior número de habitantes descendentes de japoneses. No outro lado do mundo, presenciou várias cenas de como os descendentes e imigrantes japoneses herdam ativamente o idioma e a cultura do Japão. Nesta coluna, ele transmitirá acontecimentos interessantes que presenciou no dia-a-dia, nos três anos que esteve lá.

Mais informações
About the Author

Nasceu e cresceu em Hamamatsu, Shizuoka. Graduado no Curso de Economia pela Universidade de Obirin. Após concluir o curso de Formação de Professor de Língua Japonesa pela Universidade de Hamamatsu, trabalhou na cidade de Manaus, estado do Amazonas, Brasil, como voluntário senior da JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão), como professor de língua japonesa no período de 2010 a 2013. Trabalhou principalmente na Associação Nipo-Brasileira na Amazônia Ocidental em Manaus, porém estendeu suas atividades também para os estados do Acre, Roraima e Rondônia, ajudando associações nipônicas. Retornou ao Japão e atualmente trabalha em Hamamatsu como professor do Curso Preparatório para Recolocação Profissional aos Descendentes Japoneses do JICE (Centro de Cooperação Internacional do Japão). Ao mesmo tempo está no comando do programa semanal da FM local chamado AMIZADE HAMAMATSU, onde fala em português e japonês. Também é apresentador e DJ do time de basquete profissional Hamamatsu Higashimikawa Phoenix.

Atualizado em junho de 2015

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