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Os novos desafios da nova era: conectando os nikkeis através do espaço, tempo e gerações

Meus avós deixaram o Japão a bordo do navio Ruys no dia 11 de julho de 1957 com destino ao porto de Santos e de lá, partiram para o interior do Paraná. Trabalharam e enfrentaram dificuldades adversas que não foram compartilhadas conosco. Apenas sei que o drama passado no filme Haru e Natsu, do NHK, foi apenas a ponta do iceberg, e também a ligação forte que sentem pelo Japão.

Creio que todos os imigrantes1 coadunam com esse elo forte,  que se tornou o alicerce para a criação de uma corrente para enviar ajuda humanitária ao Japão do pós-Guerra. Assim foi criado o Kaigai Nikkeijin Kyoukai2.

O meu primeiro contato com esta fundação foi em 2017, quando fui bolsista do programa Next Generation of Nikkei, do Gaimusho. Tive a oportunidade de participar dos painéis de discussão sobre a agricultura e o intercâmbio entre a América Latina e o Japão. Encantadíssima e curiosa fiquei com tanta energia e conexão entre os participantes, o que me motivou a querer participar de projetos voltados para a comunidade nikkei no Brasil.

Com integrantes do Programa Next Generation of Nikkei. Arquivo pessoal.

Tive a oportunidade de conhecer o professor Matsumoto em uma das agendas do programa e ele apresentou alguns estudos feitos sobre os nikkeis na América Latina e os trabalhos realizados. Viramos amigos e, sempre que possível, trocamos figurinhas.

O professor Matsumoto foi um dos painelistas do 61º Kaigai Nikkeijin Taikai que visa debater temas de relevância da atualidade e discute a atuação da comunidade nikkei e as possíveis soluções. Este ano, ele apresentou os impactos da pandemia do novo coronavírus na América Latina e como a comunidade nikkei atuou durante este período.

Percebi, pela fala do orador, que a comunidade não se calou, mais uma vez, diante da dificuldade e encarou como um desafio a superar. A comunidade nikkei na América Latina realizou diversos encontros, reuniões e festividades em forma virtual, não apenas para arrecadar financeiramente, mas, sobretudo, para provar a todos que podemos, juntos, viver uma nova era de forma diferente e ainda, praticar a fraternidade como novo valor.

O que podemos esperar para o ano de 2022?

Eu acredito em uma pequena desglobalização mundial pós-pandemia do novo coronavírus. Os países podem parcialmente fechar a fronteira para o comércio exterior para que possam desenvolver a economia interna, e neste provável cenário, devem emergir mais startups com novos modelos de negócios. O professor Matsumoto citou o exemplo da fintech Nubank, um banco totalmente digital e que pode ajudar países emergentes a se reerguer economicamente e deixou a dica valiosa para que a comunidade nikkei se beneficie de alguma forma, como por exemplo: pagamento facilitado de mercadorias, pagamentos em entregas etc.

O que pensar sobre os dekasseguis que estão no Japão enfrentando a pandemia? O professor Matsumoto informou que o governo japonês deu assistência a todos os trabalhadores, sem deixá-los à margem. Foram oferecidos horários diferenciados de vacinação e informativos produzidos em diversas línguas para dar suporte a todos.

E o que se esperar para o futuro dos dekasseguis? O maior problema enfrentado é a questão da aposentadoria. Sei que o nosso Congresso Nacional aprovou a Lei que recepciona o tempo de contribuição dos dekasseguis no Japão. Mas foi destacada pelo professor Matsumoto a situação daqueles que retiram o benefício para retornar ao país de origem e voltam ao Japão para definitivamente se aposentarem. Creio que existem outras problemáticas, porém, acredito que a situação econômica individual melhore e que cada um encontre uma saída para aproveitar melhor a vida.

O segundo dia do encontro virtual, para mim, foi marcado por desafios e expectativas. Conhecer a assistência médica por telemedicina, o fortalecimento da união dos jovens nikkeis da América Latina, o trabalho de manter e incentivar o estudo da língua japonesa e o elo das mulheres na economia serão as novas fontes de declaração íntima para a melhoria da minha atuação na comunidade enquanto integrante do grupo de nikkeis da nova geração.

Notas:

1. Link do Museu Histórico da Imigração Japonesa para informações sobre dados da imigração: Navios de Imigração: Lista de passageiros

2. Para entender um pouco sobre o Kaigai Nikkeijin Kyokai: 「マンガでわかる海外日系人協会」(japonês)

 

© 2021 Clarice Satiko Aoto

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About the Author

Clarice Satiko Aoto é filha de imigrantes japoneses, mora no cinturão verde de Brasília, fã de agronegócios e uma eterna apaixonada pela política. Membro da Associação Rural e Cultural Alexandre de Gusmão, ARCAG, que realiza a Festa do Morango e a Festa da Goiaba. Atuou como assessora parlamentar durante 12 anos e foi convidada pelo Governo Japonês para compor a comitiva do Programa Next Generation of Nikkeis em 2017. Sua visão sobre o mundo mudou após esse convite e quer, cada vez mais, realizar sonhos e pequenos desejos. Seu próximo passo é atuar como cientista de dados, para criar novos conhecimentos e tentar diminuir a desigualdade existente na população brasileira.

Atualizado em outubro de 2021

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