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Doce e refrescante inspiração

Makoto e Emília comandam as áreas de atendimento ao cliente e produção na Smoti junto com seus funcionários (foto: divulgação/Smoti)

Uma viagem mudou a vida de uma nikkei. A sansei Emília Tayra, ex-bancária de 60 anos, descobriu novos sabores em um doce com toque nipônico. Certa de que agradaria também o paladar dos paulistanos, principalmente os descendentes de japoneses, decidiu trazer a ideia diretamente dos Estados Unidos.


Como surgiu a ideia do mochi de sorvete

“Em uma viagem a Nova York em 2013 experimentei alguns mochis de sorvete e fiquei encantada com a beleza das esferas coloridas recheadas com sorvete”, conta Emília. “Ainda nessa viagem, tomei muito sorvete Häagen-Dazs que era barato comparado aos preços praticados no Brasil, mesmo pagando em dólar”.

Fã declarada de sorvete, a empresária diz que evitava consumir por causa do uso de gordura vegetal hidrogenada na maioria deste tipo de produto industrializado. “Sorvetes produzidos com creme de leite fresco são muito mais saborosos e saudáveis, mas um pouco mais caros. No Brasil, os preços são exageradamente elevados”, explica.

Visitar outros países pode ser bastante inspirador e para elanão foi diferente. “Queremos trazer um pouquinho do que vimos lá fora para o nosso país”, relata. E completa: “decidi deixar de lado a vida de aposentada e arregaçar as mangas para encarar o desafio de colocar essa ideia em prática: fazer mochis de sorvete e produzir sorvetes de qualidade por um preço justo”.

Depois de feita uma pesquisa sobre o assunto, a receita foi testada durante um ano até conseguirem chegar à versão definitiva. Assim, a produção e comercialização foram iniciadas em setembro de 2016.


O começo e o crescimento

A Smoti foi criada aos poucos e começou com máquinas pequenas e escala correspondente à capacidade de produção. O espaço para dar vida à empresa é “uma pequena casa com uma boa cozinha industrial na Vila da Saúde”.

A escolha dos sócios foi nada menos que pela competência e confiança. O sansei Diogo Fukuda, cunhado de Emília, é engenheiro, “tem bastante experiência em indústria alimentícia e muito conhecimento de máquinas e linha de produção”.

E, para completar o time, Roberto Makoto Shido, filho de pai japonês e mãe nissei, também engenheiro, com cuja família tem amizade pelo Escotismo, “é muito batalhador, não mede esforços para atender nossos clientes”. Atualmente aposentado, foi diretor comercial e de operações de uma multinacional japonesa.

No início, Emília, Diogo e Makoto tocavam a produção com a ajuda de alguns familiares. Os primeiros freezers foram instalados em setembro de 2016 e, durante as férias escolares, os filhos deles deram um suporte.

“Em 2018, mudamos para uma instalação maior e mais adequada. Reformamos e instalamos uma câmara fria. Contratamos três funcionários”, relata. Diogo voltou a trabalhar na área da indústria de alimentos, mas continua como sócio da Smoti. Participou muito ativamente da instalação da nova sede, do layout, do funcionamento das máquinas e da escolha das embalagens. Enquanto isso, Makoto é o responsável pela parte comercial e administrativa, tem contato com os clientes. Já Emília é encarregada da produção e criação dos produtos.

No começo, o trio de sócios e seus filhos tocavam a produção de sorvetes e mochis de sorvete (foto: divulgação/Smoti)


A Smoti

“O nome Smoti foi sugestão de um amigo americano, publicitário e professor de inglês, que adorou a ideia dos mochis de sorvete e fez uma brincadeira com a palavra mochi e a palavra smoothie [em inglês]”, revela.

O toque nipônico veio da experiência de provar doces e mochis de sorvete do Japão. “Trouxe muita inspiração japonesa, mas adequando à realidade brasileira. As embalagens de lá são lindas!”

Hoje são 12 sabores de sorvete em copinhos, potes e baldes, além de quatro sabores de mochi de sorvete: matchá, chocolate belga, doce de leite e morango. O próximo passo é o lançamento dos sorvetes “zero adição de açúcar”.

Mochis de sorvete da Smoti já estão disponíveis nos sabores matchá, chocolate belga, doce de leite e morango (foto: divulgação/Smoti)

“Não adicionamos gordura vegetal hidrogenada, aromatizantes ou corantes nos sorvetes. Utilizamos frutas de verdade, chocolate belga e matchá japonês de primeira qualidade, leite e creme de leite frescos”, afirma Emília. A ideia é fazer um sorvete com menor teor de açúcar, pois os orientais preferem um toque levemente adocicado – e estão percebendo que muitos paulistanos também.

Por enquanto o foco de vendas é na cidade de São Paulo, “ainda há muitos espaços a serem explorados”. Mas também vendem os produtos em Barueri e São Caetano, ambas próximas à capital paulista.


A relação com a comunidade nipo-brasileira e a cultura japonesa

“Fazemos uma grande degustação de nossos sorvetes no Festival do Japão [em São Paulo] e temos esse feedback nesse contato direto com o público. Gostamos de ver a reação de surpresa e alegria quando provam os nossos sabores”, conta a empresária. Também participam da Festa do Verde da Kibô-no-Iê como voluntários com a doação da renda arrecadada com a venda de sorvetes no evento.

Os sabores que têm mais proximidade da cultura japonesa são matchá e gengibre. O de chá verde é o mais vendido, “está sendo apreciado também por brasileiros”. “Estamos sempre estudando tendências de novos sabores que possam agradar o paladar brasileiro e oriental”.


Valores japoneses através das gerações

O contato com a cultura japonesa foi por meio dos pais e avós. “Prezamos muito essa herança cultural, seus valores como honestidade, trabalho e respeito ao próximo”, diz.

Esses valores japoneses são passados para os filhos principalmente pelo exemplo. “Meu filho e os filhos do Makoto foram escoteiros do Coopercotia, um clube predominantemente de descendentes de japoneses e nossa amizade começou lá, durante os mutirões de trabalho voluntário”.

E o futuro da Smoti?

Os filhos do trio de sócios estão cursando faculdade e os ajudam eventualmente. Emília diz que eles são livres para escolher o caminho profissional que desejarem, a intenção não é impor ou pedir nada a eles.

“A Smoti tem um ambiente muito harmônico e familiar, todos participaram de seu início, e se empenham na divulgação e fortalecimento da marca. Se alguns de nossos filhos quiserem assumir a empresa no futuro, ficaríamos muito felizes, pois eles têm pela Smoti o mesmo carinho que nós”, confessa.

 

© 2019 Tatiana Maebuchi

Brasil São Paulo (São Paulo) Smoti (empresa)
About the Author

Nascida na cidade de São Paulo, é brasileira descendente de japoneses de terceira geração por parte de mãe e de quarta geração por parte de pai. É jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e blogueira de viagens. Trabalhou em redação de revistas, sites e assessoria de imprensa. Fez parte da equipe de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo), contribuindo para a divulgação da cultura japonesa.

Atualizado em julho de 2015

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