Meu caminho foi aberto ao conhecer um professor maravilhoso.
[Fukazawa] Você também fez o ensino médio no Japão?
[Shimano] Sim. Pude ir graças ao meu professor de inglês. Fui o primeiro estrangeiro a ingressar em uma escola pública na cidade de Okazaki.
Minha mãe morreu repentinamente quando eu estava no segundo ano do ensino médio.
[Fukazawa] Você realmente queria ir para o ensino médio?
[Shimano] Minha professora de inglês me perguntou: "E você, Patrícia? Você está pensando em sua carreira?" Quando eu disse "Quero estudar", ela me deu todo o seu apoio.
[Fukazawa] Estou feliz por ter conhecido um professor tão bom. Seus pais sempre trabalharam em fábricas e faziam horas extras?
[Shimano] Só vou lá com a minha mãe. Meu pai permanece no Brasil.
[Fukazawa] Isso mesmo. Você vive com a sua mãe?
[Shimano] Sim.
[Fukazawa] Sua mãe está fazendo hora extra?
[Shimano] Isso mesmo.
[Fukazawa] Depois da escola, você foi para casa assistir TV sozinho?
[Shimano] Esse é o padrão. Minha mãe não tinha condições de me sustentar. Então eu tive que fazer algo sobre isso sozinho.
[Fukazawa] Como eram suas notas na escola quando você estava no Brasil?
[Shimano] No Brasil, só frequento o ensino fundamental até a quarta série. Minhas notas foram bem medianas. Não foi particularmente bom.
[Fukazawa] Porém, se você for para o Japão depois de completar o quarto ano no Brasil e depois se transferir para o Japão no final do quinto ano, haverá uma lacuna enorme no conteúdo das suas aulas. Deve ter havido uma grande desvantagem, certo? Normalmente, nesse ponto, eles abandonavam os estudos e paravam de ir à escola. Por que você continuou a frequentar a escola?
[Shimano] Eu realmente não tinha nada para fazer (risos). Tudo que eu quero fazer é ir para a escola.
[Fukazawa] Normalmente, você está na idade em que encontra amigos, tem um relacionamento e começa a se divertir. Havia muitas pessoas trabalhando em fábricas antes mesmo dos 16 anos. Em volta.
[Shimano] O apoio que recebi do meu professor de sala de aula e do professor de inglês da escola foi um grande fator. É incrível. Acho que cheguei onde estou hoje porque tive ótimos professores tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio.
[Fukazawa] Então me formei no ensino médio no Japão.
[Shimano] Sim. Aí, quando eu estava no segundo ano do ensino médio, minha mãe faleceu...
[Fukazawa] O quê, ele morreu no Japão?
[Shimano] No Japão.
[Fukazawa] Então acabei com apenas um filho. O que acontece nesse caso?
[Shimano] Por um tempo, fui morar com meu tio e obtive permissão especial da escola para trabalhar meio período. Do segundo ano do ensino médio.
[Fukazawa] Naquela época você tinha planos de voltar ao Brasil e visitar seu pai?
[Shimano] Eu não pude ir para casa.
[Fukazawa] Por quê?
[Shimano] Eu não tenho dinheiro... Minha mãe também não tinha dinheiro para economizar. Ela estava me criando no Japão enquanto mandava dinheiro para o pai dela no Brasil todos os meses. Os salários das mulheres são muito baixos, não é? Então, eu realmente tinha muito que fazer malabarismos todos os meses. Quando minha mãe faleceu, eu não tinha nenhuma poupança.
[Fukazawa] Não tenho escolha a não ser ficar no Japão. O que você fez depois que continuou estudando e se formou no ensino médio?
[Shimano] Depois de terminar o ensino médio, consegui encontrar um emprego novamente com o apoio do meu professor. Um professor daquela escola também sugeriu um emprego para mim. Pessoalmente, eu queria ir para uma fábrica ou qualquer lugar que pagasse um salário alto, mas minha professora disse: ``Patricia está estudando japonês, sabe ler e escrever, e se formou no ensino médio, então tenho certeza que ela vai ser capaz de fazer isso corretamente.'' Conseguir um emprego em outro lugar.'' Então me tornei intérprete médico no Hospital Municipal de Okazaki.
[Fukazawa] Esse é um emprego regular?
[Shimano] Não, como funcionário contratado. Trabalhei lá cerca de um ano e, embora o salário fosse pequeno, conheci muita gente de lá. Um ano depois, comecei a trabalhar para uma agência de trabalho temporário chamada 3M, como o que os brasileiros chamam de “responsável”, prestando suporte médico e levando pacientes a hospitais.
*Este artigo foi reimpresso do Nikkei Shimbun (21 de agosto de 2018).
© 2018 Masayuki Fukasawa / Nikkey Shimbun