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Parte 3: Patrícia Shimano, ex-criança Dekasegi - Retornando ao Brasil

Leia a Parte 2 >>

Mudou-se para o Brasil após o choque do Lehman

[Fukazawa] Em que momento você voltou ao Brasil?

[Shimano] Em 2009, após o choque do Lehman.

[Fukazawa] Fui para o Japão quando tinha 10 anos, em 1995. Morei no Japão por cerca de 15 anos e voltei quando tinha 25. Você trabalhou bastante no Japão.

[Shimano] Sim, de abril de 2003 a setembro de 2009.

[Nagai] Você fez alguma coisa além da 3M?

[Shimano] Sim, trabalho em uma empresa de recrutamento temporário diferente da 3M há pouco mais de um ano. Depois disso, trabalhei durante um ano como balconista em uma empresa de vendas de automóveis e depois fui contratado como funcionário de meio período da Divisão de Intercâmbio e Cooperação do Centro Internacional de Nagoya, que apoia crianças estrangeiras. Fiquei lá pouco mais de um ano.

[Fukazawa] Se você é contratado, o salário não é bom, certo?

[Shimano] Isso mesmo.

[Fukazawa] Por que você decidiu voltar ao Brasil?

[Shimano] Afinal, é o seu próprio país. Eu queria voltar desde que fui ao Japão em 1995. Eu queria voltar para o meu país. Acabei ficando no Japão por diversas circunstâncias, mas sinceramente queria voltar.

[Fukazawa] Você tinha algum objetivo, como querer voltar porque queria estudar?

[Shimano] Esse também foi o caso. Eu queria me formar na universidade.

[Fukazawa] É improvável que você possa ir para uma universidade no Japão?

[Shimano] Sim, no Japão. Não sei agora, mas naquela época não havia ou havia muito poucas universidades noturnas na província de Aichi.

[Fukazawa] Nunca ouvi falar de uma universidade que funcionasse à noite.

[Nagai] Desapareceu completamente agora. Está diminuindo rapidamente.

[Fukazawa] É possível, a menos que você trabalhe durante o dia e vá para a universidade à noite?

[Shimano] Era absolutamente impossível. Porque não havia ninguém para me apoiar.

[Fukazawa] Se eu fosse para a universidade, a opção mais realista seria voltar ao Brasil e ir para lá.

[Shimano] Meu plano era juntar algum dinheiro, voltar para o Brasil e ir para a universidade.

[Fukazawa] Entendo. Por que você decidiu estudar Direito na universidade? Você teve algum problema com a lei no Japão?

Sr. Masato Ninomiya

[Shimano] Não foi que eu tive dificuldades, mas tive alguns problemas com a lei quando minha mãe faleceu e também tive um relacionamento com meu pai no Brasil, então decidi seguir a carreira de advogado. No entanto, acho que o maior ponto de viragem foi conhecer o professor Masato Ninomiya no Japão.

[Fukazawa] Isso mesmo.

[Shimano] Achei que queria ser esse tipo de pessoa. Uma pessoa que fala dois idiomas e pode servir de ponte entre o Japão e o Brasil. Quando vi o Sr. Ninomiya, senti que ele era uma pessoa com grande poder. Ele tinha uma presença incrível e era muito atraente.

[Fukazawa] Humm.

[Shimano] Bem, eu me formei em direito.

[Fukazawa] Isso mesmo. Então eu tenho que voltar aqui e transferir minha qualificação de graduação em japonês para cá.

[Shimano] Sim.

[Fukazawa] Correu tudo bem. Em vez de refazer com o Superchivo, você quer reescrever normalmente?

[Shimano] Terminei o ensino médio no Japão, então traduzi os documentos de formatura e os entreguei à Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Isso está ok.

[Fukazawa] Você fez o vestibular normalmente e conseguiu?

[Shimano] Isso mesmo.


Vestibular universitário no Brasil

[Fukazawa] Tendo estudado japonês até o ensino médio, de repente entrei em uma universidade no Brasil, então deve ter sido difícil para mim entender o português usado nas aulas.

[Shimano] Sim.

[Fukazawa] Deve ter sido difícil a adaptação nessa área.

[Shimano] Hmm, eu me pergunto o que é.

[Fukazawa] Não foi tão difícil?

[Shimano] Isso mesmo. Foi mais difícil se acostumar com o “estilo brasileiro” do que com a língua em si.

[Fukazawa] Por exemplo?

[Shimano] É bem difícil, não é, pessoal?

[Fukazawa] Ah.

[Shimano] No Japão todo mundo é assim.

[Fukazawa] Qual tipo de sangue?

[Shimano] Ah, sou do tipo O (risos). O básico é bem difícil (risos). Todos são diferentes. Não sou muito bom em socializar com as pessoas. Quando eu estava na faculdade, só tinha um amigo.

[Fukazawa] Isso mesmo.

[Shimano] Vim aqui quase sozinho.

[Fukazawa] Quando você voltou para cá, seu pai estava lá. Parentes.

[Shimano] Meu pai morava em Maringá, no Paraná.

[Fukazawa] Está longe. Por que você veio para São Paulo e não foi para Maringá?

[Shimano] Uma vez fui para Maringá, mas não tinha emprego e não havia boas universidades, então vim sozinho para São Paulo.

[Fukazawa] Estudar na universidade não foi difícil?

[Shimano] Não, não, foi difícil. Não é apenas que “português é difícil”, é que a terminologia jurídica e a compreensão eram difíceis. Mesmo no Japão, aprendo português assistindo notícias brasileiras, lendo jornais e revistas. Porque eu estava falando português.

[Fukazawa] Mas você não estudou português no Japão, não é? Eu li livros e aprendi sozinho.

[Shimano] Sim.

[Fukazawa] Houve alguma parte que fez você querer estudar novamente na universidade?

[Shimano] Fiquei no Brasil até a quarta série do ensino fundamental, então já tinha domínio da leitura e da escrita em português. Eu simplesmente mantive isso por 15 anos. Na universidade, era extremamente difícil memorizar uma grande quantidade de terminologia jurídica.

[Fukazawa] Quando você passou no exame da OAB (advogado)?

[Shimano] Isso foi antes de eu me formar na universidade.

[Fukazawa] Em que ano?

[Shimano] 2014.

[Fukazawa] Voltei em 2009. Já se passaram 5 anos desde que voltei! Isso é incrível, é uma linha reta.

[Shimano] Sim.

[Fukazawa] Agora trabalho em um grande escritório de advocacia no Brasil chamado Pineironet.

[Shimano] Isso mesmo. Existem muito poucos advogados que sabem ler e escrever em japonês. Eu acho que é raro.

[Fukazawa] Isso significa que embora existam pessoas que falem japonês, não há pessoas que saibam ler e escrever?

[Shimano] Lá não. Quase não há pessoas com quem eu possa trocar e-mails.

[Fukazawa] Mas existe essa demanda? Há uma demanda por advogados brasileiros que falem japonês.

[Shimano] Bem, as pequenas e médias empresas são necessárias.

Parte 4 >>

*Este artigo foi reimpresso do Nikkei Shimbun ( 22 e 23 de agosto de 2018).

©2018 Masayuki Fukasawa / Nikkey Shimbun

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Sobre esta série

Se o visto de quarta geração for bem-sucedido e a quinta e a sexta gerações puderem vir ao Japão para trabalhar e aprender sobre a cultura japonesa, então este sistema de vistos será um sistema importante que influenciará o futuro da comunidade Nikkei. Patricia Shimano, ex-aluna de Dekasegi que se tornou advogada no Brasil após retornar ao Brasil, e Yasuyuki Nagai, diretor executivo do Centro de Informação e Assistência ao Trabalhador Estrangeiro (CIATE), que está na linha de frente no trato com Dekasegi, e deu uma entrevista com Nikkei Shimbun. Tivemos uma mesa redonda com o editor-chefe Masayuki Fukazawa.

(*Esta mesa redonda foi realizada em junho de 2018 e foi revisada para refletir as mudanças nas circunstâncias desde então. Reimpresso do Nikkei Shimbun .)

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About the Author

Nasceu na cidade de Numazu, província de Shizuoka, no dia 22 de novembro de 1965. Veio pela primeira vez ao Brasil em 1992 e estagiou no Jornal Paulista. Em 1995, voltou uma vez ao Japão e trabalhou junto com brasileiros numa fábrica em Oizumi, província de Gunma. Essa experiência resultou no livro “Parallel World”, detentor do Prêmio de melhor livro não ficção no Concurso Literário da Editora Ushio, em 1999. No mesmo ano, regressou ao Brasil. A partir de 2001, ele trabalhou na Nikkey Shimbun e tornou-se editor-chefe em 2004. É editor-chefe do Diário Brasil Nippou desde 2022.

Atualizado em janeiro de 2022

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