Descubra Nikkei

https://www.discovernikkei.org/pt/journal/2017/6/7/fiesta-musica-juventud-nisei/

Festa, música e juventude nissei nas décadas de 1960 e 1970

Uma multidão regular de nikkeis enchia os salões de dança todas as semanas. Testemunha disso são o Majestic Hall, o Kaseijo Gakko de Sáenz Peña em La Victoria ou a Beneficência Chinesa. Toda semana aconteciam festas na colônia japonesa de Lima. Para dar maior animação, o local foi decorado de acordo com a ocasião. Se a festa se chamava “A Gruta”, tudo era decorado como se fosse uma gruta. Se fosse “Aquário”, era decorado como tal, até com água e peixes. É assim que Nori Yonashiro, fundador da orquestra Seventy Seven, lembra das festas temáticas. A boa música também não poderia faltar. Havia orquestras ao vivo que animavam a noite, tocando covers de grupos da moda até o amanhecer.

Geralmente, os jovens nisseis daquela época, como os da Associação Universitária Nissei do Peru (AUNP), organizavam essas festas que começavam às 11 da noite até as 3 ou 5 da manhã do dia seguinte. Naquela época ainda era possível caminhar tranquilamente pelas ruas de Lima. Para encerrar a festa, músicas românticas ou baladas eram obrigatórias.

Durante essas férias e nas reuniões familiares nasceram vários grupos musicais nikkeis. Alguns eram mais rock e outros mais românticos. Outros tinham experiência musical e muitos outros apenas vontade de fazer música.

Key Ytosu, ex-integrante do grupo feminino Arcoiris, lembra assim: “Minha tia se casou em 1970. Fizeram uma festa no Dai Hall do Centro Cultural Japonês Peruano, resolvemos cantar e a galera da AUNP gostou isto. Eles nos contrataram para a festa de Ano Novo! Não sabíamos muito sobre música, mas tínhamos vontade e simplesmente nos jogamos nisso. Felizmente, Ramón Villaverde Masaki do grupo Los Dorados foi nosso professor de música. Alguns de nós tínhamos ouvido musical, mas outros precisavam de uma ajudinha. Por exemplo, para tocar órgão, marcavam as teclas com fita adesiva. Então eu já sabia qual tecla tocar.”

Muitos destes grupos Nikkei actuaram em clubes, instituições e até locais públicos, dentro e fora da comunidade. Também são lembradas as apresentações nas matinês do cinema, com até sete bandas por tarde. Muitos também gravaram álbuns e alguns outros apareceram na televisão local e ficaram até tentados a viajar para o exterior.

Yoshi Hirose, atual líder do grupo Yoshi e Los Blue Stars, conta uma anedota curiosa. “Meu grupo e eu nos apresentamos em uma matinê junto com outras bandas. Todos deixamos nossos instrumentos na lateral do palco. Quando chegou a nossa vez, não sabíamos quais eram os nossos. Eram tantos! O apresentador estava nos apressando. 'Deixe os chineses saírem e brincarem!' Não houve escolha a não ser sair com apenas uma guitarra. Não sabíamos o que fazer. Uma vez no palco, decidimos dançar, inclusive o baterista. Não demorou muito para nos ferrarmos. Assim que entramos, tivemos que sair do palco.”

Mas o tempo passou e essa era de grupos musicais e festas foi acabando. Como diz o ditado: “Lembrar é viver de novo”. Por que não nos lembramos de alguns desses grupos?


ORQUESTRA DE SERENADA

Em 1960 um grupo de jovens jogava como amador no Clube Unión Pacífico: Manuel Inamine, Pedro Kanashiro, Augusto Ikemiyashiro, Manuel Sato, Pepe Arakaki, Guillermo Kiyamu e Felipe Higa. Estes três últimos criaram o Serenade em 1961, o primeiro grupo musical da comunidade peruano-japonesa. Entre seus demais membros encontramos Kochan Ikeda, Víctor Mune Yamakawa, Lencho García, os irmãos Masa e Tomu Sakihara, Fernando Higa, Héctor Lazo, além de Olga Chinen, Ricardo Tamaki, Carlos Kiyamu e Irene Sakihara.

Alguns anos depois e com mais experiência em palco, o seu carismático líder Pepe Arakaki alia o canto à animação. A serenata atinge um estilo único que influenciaria futuras orquestras. Eles conviveram com artistas locais e apareceram na televisão, como no lembrado programa familiar Bingo de Domingos Gigantes. Eles até ficaram tentados a se apresentar no Japão, mas isso não se concretizou.

A Orquestra Serenata, criada em 1961, foi o primeiro grupo musical da comunidade peruano-japonesa. (Foto: ©APJ)


OS TELSTARS

Em 1966 nasceu o primeiro grupo Nuevoolero da comunidade Nikkei. Eram quatro Chalacos entusiastas que optaram pela música instrumental: Jorge Akira Yamashiro, Emilio Tabo Nakankari, Jorge Miyagui e Edmundo Miyagui. Eles batizaram o grupo de Los Telstars, inspirado em um sucesso do grupo americano The Ventures. Tocaram covers em inglês e japonês, embora também acompanhassem diversos cantores nikkeis da época, como Ana Higa, Jinso Kanashiro e Rosita Miyashiro.

A estreia foi em uma reunião de família, mas profissionalmente brilharam em uma festa no Posto Médico San Martín de Porres. Durante dois anos, Los Telstars realizou festas, bingos e matinês em cinemas, dentro e fora do bairro. Em 1967 eles viajaram para Arequipa para participar do concurso de beleza da revista Nikko. Fizeram apresentações em diversas atividades sociais e em um programa do canal 6 de Arequipa.

Apesar da fama, o grupo decidiu se separar em 1968. Dedicaram-se totalmente aos estudos na universidade.

Os Telstars (Foto: ©APJ)


DOCES DE HORTELÃ

Com um toque fresco e romântico como o próprio nome, Caramelo de Menta surgiu em 1970. Entre seus integrantes podemos lembrar Justo Urbina, Roberto Chicho Higa, Ricardo Miyagui, Toribio Eichi Hattori, Augusto Ayesta, Luis Chávarri, Predrag Stojakovic e Ana Higa.

Durante dois anos, a voz roqueira de Ana Higa fez vibrar seus fãs. Após sua aposentadoria, Chiyo Akamine entra com uma proposta mais japonesa e melodiosa. Com a renda, gravaram o single em japonês “Por que você vai para Kyoto?” em 1972. Em pouco tempo tornou-se sucesso nas rádios locais, liderando a preferência do público por várias semanas. Até agora é a música mais lembrada e conhecida de Caramelo de Menta.

Doce de Menta (Foto: ©APJ)


A CARA BONITA DO MEU CÃO

The Pretty Face of my Dog surgiu em 1970. Com o conhecido cantor Pochi Marambio como vocalista e acompanhado por Víctor Kochan Sakata, Pancho Kanagusuku e Augusto Tokashiki, o grupo se destacou dos demais pela aparência mais descontraída e até hippie.

Embora sua vida artística tenha sido muito curta (1970-1972) e suas apresentações poucas, são lembrados como um grupo que se impôs ao sistema através de seu estilo e música.

SÓ MENINAS: ARCO-ÍRIS, TREVO CRIMSON E AS CHUVA

No início da década de 70, surgiram em cena três grupos formados inteiramente por mulheres. Algumas mais lembradas que outras, seus nomes sugestivos mostravam o lado feminino do rock. Crimson Clover teve uma passagem passageira no palco. Las Lluvias eram como a versão feminina do grupo Seventy Seven e Arcoiris existia há cerca de quatro anos.

Arcoiris foi o grupo que alegrou as festas Nikkei entre 1970 e 1974 com um repertório variado entre o rock clássico e o melódico. Entre os seus membros lembramos as irmãs Chie, Nancy e Nora Kamida, as irmãs Mine e Key Ytosu, Akemi Ytosu, Kinu Ytosu, Hide Moromisato, Pamela Higa, bem como Charo Makiya e Jazmine Chong Onaga. Teve uma carreira de sucesso, mas decidiram dissolver o grupo em 1974 para se dedicarem aos planos pessoais.

Arco-íris (Foto: ©APJ)
Trevo carmesim (Foto: ©APJ)

As chuvas (Foto: ©APJ)


O DOURADO

Julio Chinen, fã de música e dono de um estúdio fotográfico (El Marañón), entra no cenário musical por acaso. Um de seus clientes sugere que ele se junte ao grupo Los Dorados. A partir desse dia, Los Dorados já tocava em festas na colônia japonesa. Apenas um ano eles brilharam no palco. Em 1969, Los Dorados se separou e Julio Chinen formou seu próprio grupo em 1970: Los Dorados Nisei.

No início, em Dorados Nisei estavam: Julio Chinen, Alberto Leyva, Tito Chinen, Masami Tobaru, Aki Nagamine e Manolito Shimabukuro. Mas pouco depois, com a saída de Julio Chinen, Guillermo Asato, Doris Yabiku, Masao Onaga e Coco Hirashima se juntaram ao grupo. Nas festas eles apareciam como grupo de fundo das 3 às 6 da manhã. Os casais apaixonados esperavam ansiosamente que dançassem “Quão grande meu lindo amor por você” de Roberto Carlos, um de seus covers mais pedidos, que gravaram em álbum em 1971. Tocaram pela última vez no Novo Festa de Ano em 1974. .

O Nisei Dourado (Foto: ©APJ)


MORANGO NISEI

Naquele mesmo ano, alguns meninos muito jovens, que mal haviam atingido a maioridade, apareceram em cena. Com tanomoshis compraram seus próprios instrumentos e formaram "Nisei Fresa" O público os aplaudiu "Fresa Nisei!, Fresa Nisei!" O nome soava melhor e foi assim que ficou.

Fresa Nisei fez parte da Fresa Nisei ao longo de sua carreira: Arturo Aki Nagamine, Alberto Leiva, Luis Masami Tobaru, Doris Yabiku, Chio Akamine, Rosita González, Rosita Miyashiro, Manuel Isa, José Arteta, Eduardo Cano, Pascual Vázquez e Víctor Colina, entre outros músicos. Tocavam o que estava na moda, em inglês, espanhol ou japonês. Gravaram dois singles: "La brisa y yo" e "Retén la noche".

Mas já estávamos na década de 80 e o tempo das festas nos grandes salões e instituições começou a diminuir assim como os contratos. Em 1983 foi sua última apresentação.

Morango Nisei (Foto: ©APJ)


OS ZIG ZEROS, OS BARÕES E O SEBASTIANTH DE YOSHI HIROSE

Yoshi e Luigi (Foto: ©APJ)

Yoshi Hirose é um proeminente cantor nikkei que também se aventurou no cenário musical, mas com uma visão mais ampla. Como banda eles preferiram palcos fora da colônia.

Entre 1967-1968 apareceu pela primeira vez no palco com Los Zig Ceros. Yoshi atende ao chamado de Lucho Watanabe para fazer música junto com Fernando Velarde, Richard Chiang e José Hohagen. Eles se apresentaram em diversas matinês, gravaram álbuns e até apareceram em programas de televisão.

Em 1972, Yoshi trocou as baladas pelo funk e rock. A moda e a música mudaram e agora eram mais psicodélicas e rock. Seu novo grupo foi Los Barones junto com Aurelio Nakasone e Andrés Dulude (do grupo Frágil), entre outros. Eles ganharam um concurso de música organizado pela Coca-Cola e renomearam o grupo como Sebastianth. Eventualmente, Yoshi se junta a Luigi Montagne e forma a dupla Yoshi & Luigi. Atualmente Yoshi Hirose revive a música dos anos 60 e 70 com sua banda Los Blue Stars.


SETENTA E SETE

Várias orquestras Nikkei surgiram nesta época, mas poucas sobreviveram até agora e com sucesso, como a Seventy Seven. Com música que vai do new wave e disco ao rock e salsa, o Seventy Seven tem animado festas e atividades sociais de Ano Novo desde o seu início em 1969 até o presente. Entre seus primeiros integrantes, lembramos Nori Yonashiro, Daniel Hara, Hide Yonashiro, Mori Furuken, Shigeru Yamanoha, Marina Yonashiro e Hiromi Maegushiku.

Setenta e Sete (Foto: ©APJ)

Nori Yonashiro, tecladista e diretor, conta uma anedota inesquecível que aconteceu com eles em Arequipa. “Em 1976 viajamos para Arequipa como parte da delegação japonesa da APJ (então Sociedade Central Japonesa) para um festival internacional. Devíamos ser todos japoneses e não sabíamos falar espanhol. No dia do show cantamos música em japonês, mas conquistamos o povo de Arequipa com a valsa 'José Antonio'. 'Como eles pronunciam bem o espanhol!', disseram-nos as pessoas. Eles nos pediram fotos e autógrafos. Eles pensaram que éramos artistas japoneses! Lamentamos decepcioná-los e para não perder o encanto só podíamos dizer 'Doomo arigatoo' (muito obrigado) e 'sayonara' (adeus).”

São tantos outros grupos que poderíamos lembrar, como Clan Pop Nisei, Rh Positivo, Arizona Nisei e Los Doltons com César Ychikawa e Kike Goya, entre outros. Todos esses grupos fizeram parte de uma época em que a juventude nissei organizava suas festas e vibrava com sua própria música.

Arizona (Foto: ©APJ)

Agradecimentos e fontes: Yoshi Hirose, Nori Yonashiro e Hiromi Maegushiku (Setenta e Sete), Key Ytosu, Agustín Tokumori e Carlos Shinzato. Movida Musical Nikkei (Documentário de Ricardo Miyagui Maeda), Revista Mercado Latino (2010), Diario Peru Shimpo (2013), Cinco Continentes TV de Jaime Del Águila (site) e La Cumbia de Mis Viejos (blog).

* Este artigo foi publicado graças ao acordo entre a Associação Japonesa Peruana (APJ) e o Projeto Descubra Nikkei. Artigo publicado originalmente na revista Kaikan nº 110 e adaptado para o Descubra Nikkei.

© Texto e fotos: Associação Japonesa Peruana

© 2017 Texto y fotos: Asociación Peruano Japonesa

Arco Iris (grupo musical) Arizona Caramelo de Menta (grupo musical) Estados Unidos da América Fresa Nisei (grupo musical) gerações La Lluvias (grupo musical) Los Dorados Nisei (grupo musical) Los Telstars (grupo musical) música Nisei Peru Seventy Seven (orquestra) The Pretty Face of my Dog (grupo musical) Trébol Carmesí (grupo musical) Yoshi Hirose (cantor)
About the Authors

Sansei, cujos avós paternos e maternos vieram da cidadezinha de Yonabaru, em Okinawa. Atualmente ela trabalha como tradutora freelancer (inglês / espanhol) e blogueira do site Jiritsu,, onde compartilha temas pessoais e sua pesquisa sobre a imigração japonesa ao Peru, além de tópicos relacionados.

Atualizado em dezembro de 2017 


A Associação Peruano Japonesa (APJ) é uma organização sem fins lucrativos que reúne e representa os cidadãos japoneses residentes no Peru e seus descendentes, como também as suas instituições.

Atualizado em maio de 2009

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