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Do mangá e games para a caricatura

Daniel Sato começou a fazer caricaturas a partir de mangás e games (foto: divugação/Sato Caricaturas)

Daniel Sato, 35 anos, sansei, tem uma história bastante comum entre nikkeis brasileiros.

Fez curso de design gráfico durante seis meses “por conta de sonhos que a família coloca na nossa cabeça de que trabalhar com computação ficaria rico”. Também chegou a trabalhar como web designer que achava que “seria tudo de bom” durante um ano, mas descobriu que não era isso que ele queria. E decidiu seguir por outro caminho.

Influência de mangá e animes

“Comecei desenhar carros desde pequeno. Minha mãe dizia que com três anos já desenhava. Eu acho estranho (risos)”. Mas com as caricaturas foi diferente. “Eu comecei a desenhar alguns mangás quando criança inspirado em Rock Man, um game da Capcom, e aí depois algo relacionado a jogos como Street Fighter e KOF (King of Fighters) 97. Daí eu e uma turma da sala começamos a desenhar todos os colegas, inclusive os professores, como personagens do KOF 97”. Por isso, Daniel acha que faz hoje uma caricatura “sem pegar muito pesado com a pessoa”.

O caricaturista diz que muitos que começaram na mesma época que ele se inspiraram no mangá ou nos quadrinhos americanos ― como a Marvel. Diferente de hoje que a maioria dos artistas que trabalha com caricatura abomina o estilo japonês por considerar padronizado demais.

Apesar disso, o mangá teve bastante influência em seu estilo. “Eu comecei a desenhar mais nos estilos de games como KOF 97, Street Fighter Zero 3, animes como Saint Seiya e Yu Yu Hakusho. Hoje nosso estilo [da equipe dele em sua empresa] não é considerado por muitos profissionais da área como caricatura, pelas cores hoje temos um estilo voltado mais ao cartoon. Mas gosto de animes, ainda hoje assisto a continuação de séries como Saint Seiya, Inazuma Eleven e por aí vai”, conta.

O trabalho como caricaturista

A ideia da Sato Caricaturas já existia em 2003, mas Daniel tinha pouca experiência e não possuía dinheiro suficiente para comprar equipamentos e, por isso, deixou de lado.

A empresa iniciou suas atividades em 2011, quando ele já havia retornado do Japão, começando do zero como caricaturista, “mas agora com uma cabeça mais empreendedora, porém com um foco, oferecer um trabalho com qualidade e responsabilidade que na época eu acreditava que não tinha (e de fato não tinha).”

Além disso, Sato pensava que precisava “oferecer ao cliente algo melhor e ao mesmo tempo diferente, algo que ele guardasse e não jogasse fora”, explica.

Daniel conta que nessa época havia muitos caricaturistas, porém que não cumpriam prazos, não se comprometiam ou não sabiam nem mesmo desenhar. Aos poucos, conheceu outros profissionais e um foi aprendendo com o outro novas técnicas e até mesmo como se portar em eventos. “Hoje existem mais equipes que estão bem engajadas e trabalham com responsabilidade”.

Os principais clientes da empresa são corporativos. Isso porque as companhias utilizam a caricatura para fazer promoções, vender ou até mesmo motivar funcionários. Um dos principais serviços realizados hoje é a caricatura em caneca para aniversariantes do mês e congressos. Atende também festas particulares e lembranças.

Curioso é que a maioria ou quase a totalidade de clientes não é descendente de japoneses, e sim da comunidade sul coreana. Um casal contratou Sato para fazer a festa de um ano do filho, que para eles descobriu mais tarde descobri ser um cerimonial superimportante. O caricaturista diz que o fato de ele ser oriental ajudou na hora de ser escolhido para o trabalho e também porque já sabia desenhar um pouco. Depois, chegou a atender praticamente todos familiares desse casal e passou a fazer mais trabalhos para sul coreanos.

Em sua equipe, apenas Daniel é nikkei. E cada um tem seu próprio estilo de desenhar. “Na caricatura como não tem regra nem padrão de como deve ou não ser, cada um tem um estilo, que é isso que é mais legal. Se fossem todos iguais, logo se enjoaria fácil.”

Cada integrante da equipe da Sato Caricaturas tem seu próprio estilo de desenhar (foto: divugação/Sato Caricaturas)


Valores e cultura japonesa

Depois de um ano que Sato iniciou a profissão como caricaturista mudou-se para o Japão como dekassegui. Casou-se e foi para lá. “Tenho muitas saudades de lá, acho que a honestidade e o senso de justiça de lá são inspiradores. Já fui trabalhar e esqueci a chave de casa na porta e ninguém entrava”.

Quando aprendeu a falar mais o japonês, conseguia compreender melhor os japoneses na cultura e nas tradições que são “beeeem diferentes” da cultura nipo-brasileira. Na opinião de Daniel, os valores de lá são “mais característicos” e ainda hoje ele assiste a doramas tanto do Japão como da Coreia do Sul.

Já sobre a cultura japonesa no Brasil, o caricaturista acha que é “pouco preservada” e diz que as novas gerações nem ao menos sabem mais falar o nihongo se comparar com outras culturas orientais. “Vejo crianças, por exemplo, coreanas e chinesas que mantêm o costume como no país de origem, desde língua até outros aspectos.”

Sato justifica que esses costumes vêm se perdendo pelo fato de a cultura deixada pelos imigrantes japoneses estar no Brasil há mais tempo que as demais. “Não nos falamos mais em japonês e eu acho uma pena”, lamenta.

 

© 2017 Tatiana Maebuchi

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About the Author

Nascida na cidade de São Paulo, é brasileira descendente de japoneses de terceira geração por parte de mãe e de quarta geração por parte de pai. É jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e blogueira de viagens. Trabalhou em redação de revistas, sites e assessoria de imprensa. Fez parte da equipe de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo), contribuindo para a divulgação da cultura japonesa.

Atualizado em julho de 2015

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