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Lembrando de 03/2011 em 2016: Tohoku no Shingetsu - Parte 2

Ler Parte 1 >> 

Quando vamos ter a chance de ver o filme aqui no Canadá?

Espero que neste outono no Festival Internacional de Cinema de Vancouver. Nós vamos inscrever o nosso filme no festival de cinema e esperamos que ele venha a ser selecionado na sua programação. O plano é que esta seja a estreia canadense em 2016.

A realidade é a seguinte: muitos filmes bons estão sendo feitos hoje em dia em todo o mundo, e não há garantia de que um filme vá chamar a atenção. O festival de Sundance teve 12,793 inscrições este ano, mas apenas 122 filmes foram selecionados e exibidos. A competição fica extremamente difícil com números desse nível. Mas vamos fazer o máximo possível e espero que a gente tenha sorte. O filme é bom; ele só precisa ser visto.


Quais são as características particulares que distinguem este filme dos outros? Por que deveria ser selecionado? 

Não, eu não posso responder essa pergunta. É uma obra de arte de uma cineasta independente ... ou seja, é o meu coração unido àqueles de Tohoku. Pois então, eu não posso dizer porque este filme deveria ser selecionado ao invés de outros. Cada obra de arte tem seus méritos. Cabe ao público responder esta pergunta.

Você já o apresentou em Sendai. Como foi recebido lá?

Eu apresentei “prévias” do filme ainda inacabado, como um “trabalho em andamento” para uma plateia específica em Sendai e na sala de exibição da embaixada do Canadá em Tóquio. Essas apresentações foram incrivelmente comoventes.

Uma prévia especial muito comovente do documentário ainda inacabado Tohoku no Shingetsu na sala de cinema da Embaixada do Canadá em Tóquio, em 02 de dezembro de 2015. Linda está acompanhada por mais de 40 sobreviventes que viajaram para Tóquio para compartilhar este momento juntos. (Foto cortesia de Taka Yamamori)

Fiquei surpreendida com a forte reação das plateias japonesas e de Tohoku. Quando a sessão acabou e as luzes se acenderam ... uma pessoa na platéia começou a cantar Furusato (uma canção cantada em Tohoku no Shingetsu). Aquela única voz inspirou outras vozes a cantarem também ... até que todo mundo ficou de pé, cantando para os sobreviventes de Tohoku no filme, que estavam comigo em frente à plateia.

Nem precisa dizer que não sobrou nem um olho seco na sala. Que bela, belíssima recepçãopara o nosso filme. O filme já está dando no que falar ... as pessoas que já assistiram, acham que é um filme importante, especialmente no Japão.

Pois então, muitos filmes e projetos são iniciados, mas nunca alcançam a linha de chegada. Por isso eu me sinto muito grata por termos alcançado a linha de chegada desta maratona. E agora fica por parte do público.

Pré-estreia do filme em 4 de dezembro em Sendai. (Foto cortesia de Tsutomu Nambu)


Você pode nos dizer quem esteve envolvido no documentário, tanto aqui como no Japão? Tem algum ator japonês famoso que poderíamos conhecer?

A atriz Tamiyo Kusakari de Dança Comigo?, vencedora do Prêmio da Academia Japonesa de Cinema, se ofereceu para fazer a narração em japonês do Tohoku no Shingetsu, a qual foi feita num estúdio de gravação em Onomichi. Apesar da Tamiyo morar em Tóquio, ela atenciosamente viajou até Onomichi para gravar uma narração maravilhosa. Eu tive muita sorte de poder contar com o seu talento e apoio neste filme.

O marido de Tamiyo é o respeitado diretor japonês Masayuki Suo. Ele nos tem oferecido apoio e dicas por trás das câmeras, coisa que dinheiro realmente não pode comprar.

No geral, eu fui muito sortuda de ter tido tantas pessoas generosas e talentosas envolvidas neste projeto. Estou muito agradecida a todas elas.

Com a atriz Tamiyo Kusakari (à esquerda), a narradora do filme, e seu marido, Masayuki Suo (à direita), na pré-estreia do filme em 2 de dezembro em Tóquio. (Foto cortesia de Tsutomu Nambu)

* * * * *

Sobrevivendo Cinco Anos Depois ...  

Você pode nos dar uma atualização sobre o que está acontecendo com os sobreviventes de 03/11? Eles estão lidando bem ou não com a situação? As coisas lá estão melhores do que há um ano atrás?

Em setembro, depois de terminar a parte visual da montagem do filme, eu fui ao Japão para fazer uma série de palestras (para começar a promover o filme e para ganhar algum dinheiro para continuar trabalhando nesse filme!). Enquanto eu estava por lá, eu viajei até Tohoku, passando pelas prefeituras de Iwate, Miyagi e Fukushima para contar – para dar um “alô” às pessoas e para ver como estavam indo os amigos que fiz desde 2011. E também para mostrar a eles a sua participação no filme antes da exibição pública.

Eu tinha ficado longe do Japão por quase dois anos, ocupada editando a parte visual do filme em Vancouver e me mantendo em contato com as pessoas de Tohoku apenas através de e-mails. Depois dessa ausência de dois anos, eu estava esperando encontrar várias grandes mudanças nas suas vidas e condições. Mas fiquei um pouco chocada e entristecida de ver o quão lento tem sido o progresso em algumas áreas.

Quase todas as pessoas que entrevistei (mais de 80 pessoas) que estavam morando em kasetsu (alojamentos temporários) em 2011 ainda estão morando neles hoje. Apenas umas poucas (duas ou três famílias) tiveram sorte o suficiente para deixar para trás a “vida em kasetsu” e voltar a morar numa casa. O restante está vivendo em pequenos e muitas vezes remotos grupos de “acampamentos kasetsu”. A lei japonesa com respeito aos kasetsu afirma que habitações temporárias para as vítimas de desastres são construídas para serem utilizadas por dois anos. Eles agora já estão nessa há mais de cinco anos.

Se eu me sinto desapontada, eu mal posso imaginar o que eles devem estar sentindo.

Dependendo de onde você for, o progresso ou falta de progresso é diferente, desde a parte norte, na aldeia de pescadores de Otsuchi, em Iwate, até as cidades fantasmas abandonadas como Odaka, perto da usina nuclear em Fukushima ... O progresso é diferente.

A cidade de Namie está localizada dentro do perímetro de 20 km da usina nuclear Daiichi Fukushima. Todos os residentes da área foram evacuados e continuam sem poder retornar. Muitos trabalhadores estão trabalhando diariamente na reconstrução da cidade. Não é possível entrar na área sem permissão. (Foto cortesia de Shogo Horiuchi) 


Como assim?

As vítimas são muito pacientes e tolerantes e muitas delas encontraram contentamento de maneiras simples, mas profundas. As estatísticas mostram que o estresse emocional e a depressão são os principais problemas enfrentados pelos sobreviventes em 2016.


O que podemos fazer aqui no Canadá/EUA para ajudar os sobreviventes?

Não se esqueçam deles. Tentem compreendê-los. Aprender com eles. Vendo e vivendo as nossas próprias vidas de uma forma mais clara.

A assistência não é mais necessariamente ligada a doações financeiras. Tem mais a ver com se dar ao trabalho de escutar e expressar compaixão. Na verdade, muitas pessoas de Tohoku têm vergonha de receber “esmolas” e sentem que seu orgulho próprio foi reduzido. O povo de Tohoku é composto de pessoas que sabem como tirar proveito da natureza começando do zero. O povo de Tohoku sabe como compartilhar a metade do que eles têm com os outros. Estas características formam o núcleo do espírito de Tohoku.

Estas são as coisas que vi ao longo destes cinco anos convivendo com o povo de Tohoku e que aprendi a ver novamente na minha própria vida.


Você pode compartilhar algumas destas histórias no documentário?

Vou deixar isso para o público descobrir quando assistirem Tohoku no Shingetsu. É uma história humana, e não apenas uma história sobre o povo de Tohoku. É uma história sobre os costumes e tradições japonesas, tanto as partes boas quanto as ruins. É uma história sobre o amor e o companheirismo.

Menina com guarda-chuva vermelho. A vida das pessoas durante a recuperação e reconstrução de Tohoku muitas vezes se encontra entre o que elas enfrentam na realidade e os velhos costumes e tradições japonesas. Às vezes estes ajudam, às vezes eles dificultam a recuperação das pessoas. Na floresta de bambu contaminada na fronteira entre Fukushima e Miyagi.
(Foto cortesia de Linda Ohama)


Como foi esta jornada pessoal?

Incrível. Um aprendizado incrível: o idioma, Tohoku, a cultura japonesa. Um desafio incrível, fisicamente, financeiramente e mentalmente. Incrivelmente gratificante: passando a conhecer e me conscientizando que existem tantos seres humanos maravilhosos. Um alívio incrível de ter terminado a parte do “trabalho” no projeto. Incrivelmente nervosa com respeito se vamos ou não conseguir um público para dar ouvidos às vozes de Tohoku. Tudo isso e muito mais. Mas tem uma frase que consegue descrever tudo: uma jornada incrível.


O que ainda precisa ser feito? Alguma necessidade a ser satisfeita?

Ainda tem muita coisa para se tentar e fazer.


A essa altura, quais são as suas esperanças para o documentário?

O primeiro festival de cinema. As apresentações em Tohoku. Encontrar um público. Assistência para as pessoas de Tohoku.


Por que ainda é importante lembrar 03/2011 em 2016?

Isso nos lembra que devemos apreciar a vida, a natureza e uns aos outros todos os dias.

Shingetsu” quer dizer “uma lua nova” em japonês; a lua que não podemos ver no céu da noite, apesar de que ela está lá. É como Tohoku e a própria vida. Tem tantas coisas na vida que não podemos ver, mas podemos sentir se prestarmos atenção. Estas podem se tornar as coisas mais maravilhosas, alegres e puras do nosso dia, mas às vezes nós estamos muito ocupados ou preocupados para nos dar conta. Tem tanta coisa que podemos apreciar e tanto para sermos gratos, mesmo quando você acabe com o que parece não ser nada.

Uma jovem tem como missão a preservação de uma antiga dança sagrada numa cidade que perdeu um de cada dez habitantes, incluindo muitos dos dançarinos e dos figurinos. Esta dança pode ser vista em Tohoku no Shingetsu, no local original onde costumava ser apresentada antes do tsunami.
(Foto cortesia de Linda Ohama)

Para maiores informações, visite http://www.lindaohama.com/

 

© 2016 Norm Ibuki

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Sobre esta série

Em Japonês, kizuna significa fortes laços emocionais.

Esta série de artigos tem como propósito compartilhar as reações e perspectivas de indivíduos ou comunidades nikkeis sobre o terremoto em Tohoku Kanto em 11 de março de 2011, o qual gerou um tsunami e trouxe sérias consequências. As reações/perspectivas podem ser relacionadas aos trabalhos de assistência às vítimas, ou podem discutir como aquele acontecimento os afetou pessoalmente, incluindo seus sentimentos de conexão com o Japão.

Se você gostaria de compartilhar suas reações, leia a página "Submita um Artigo" para obter informações sobre como fazê-lo. Aceitamos artigos em inglês, japonês, espanhol e/ou português, e estamos buscando histórias diversas de todas as partes do mundo.

É nosso desejo que estas narrativas tragam algum conforto àqueles afetados no Japão e no resto do mundo, e que esta série de artigos sirva como uma “cápsula do tempo” contendo reações e perspectivas da nossa comunidade Nima-kai para o futuro.

* * *

Existem muitas organizações e fundos de assistência estabelecidos em todo o mundo prestando apoio ao Japão. Siga-nos no Twitter @discovernikkei para obter maiores informações sobre as iniciativas de assistência dos nikkeis, ou dê uma olhada na seção de Eventos. Se você postar um evento para arrecadar fundos de assistência ao Japão, favor adicionar a tag “Jpquake2011” para que seu artigo seja incluído na lista de eventos para a assistência às vítimas do terremoto.

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About the Author

O escritor Norm Masaji Ibuki mora em Oakville, na província de Ontário no Canadá. Ele vem escrevendo com assiduidade sobre a comunidade nikkei canadense desde o início dos anos 90. Ele escreveu uma série de artigos (1995-2004) para o jornal Nikkei Voice de Toronto, nos quais discutiu suas experiências de vida no Sendai, Japão. Atualmente, Norm trabalha como professor de ensino elementar e continua a escrever para diversas publicações.

Atualizado em dezembro de 2009

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