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Um Ano Novo no Japão e o Ano Novo japonês no Brasil

Até um ano atrás, eu tinha uma ideia de como é a tradição de Ano Novo no Japão (shogatsu). A data é importante no país por ser religiosa. E quando viajei para lá, vi um pouco desta celebração de perto.

Foi uma experiência interessante e diferente, porque assim percebi que os nipo-brasileiros mantêm apenas alguns costumes que são fortes no país de origem de suas famílias.


Bonenkai e shinnenkai, as festas de final de ano

No Japão, existe a tradição das festas de fim de ano. O bonenkai é um evento para reunir famílias, amigos, funcionários de uma empresa, entre outros, para uma grande confraternização. O shinnenkai tem o objetivo de comemorar o início de um novo ano – que também pode ser uma reunião entre todos essas grupos de pessoas para desejar sorte, abundância e felicidade.

Quando trabalhei no Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social), conheci estas duas celebrações. Tive a experiência de participar do bonenkai da entidade, com jantar, apresentação de música e um brinde. Já sobre o shinnenkai ouvi e li relatos de que a cerimônia tem a presença do cônsul-geral do Japão, acompanhado de sua esposa, e conta com o banzai sanshou, que são os três vivas em saudação ao Ano Novo, e o kampai, que é o brinde.

Eu e meus amigos que fiz lá organizamos nossas próprias festas e nos reunimos inclusive com amigos e conhecidos não descendentes que estavam de alguma forma ligados à cultura japonesa.


Costumes japoneses

A passagem do ano é uma data bastante importante no Japão e a festividade dura aproximadamente três dias. Esta é a época em que os japoneses fazem a purificação, orações e dão boas-vindas ao ano que começa. Além disso, famílias assistem ao tradicional Kouhaku Utagassen, show de música com cantores famosos.

Aprendi em uma aula na escola de japonês que os preparativos começam com alguns dias de antecedência. Donas de casa fazem grandes faxinas em suas casas, chamadas souji, uma espécie de purificação. Isto porque para entrar no ano novo é preciso ter tudo limpo.


Religiosidade no Ano Novo do Japão

Joya no kane é a cerimônia celebrada na noite do dia 31 de dezembro, que consiste em tocar o sino 108 vezes, sendo a última badalada à meia-noite. As badaladas representam os 108 desejos mundanos (bonno). Assim, tocar o sino tem o objetivo de afastar esses desejos para que o homem esteja purificado no novo ano.

Em Tóquio, os japoneses geralmente passam a virada do ano nas proximidades da Tokyo Tower, um ícone da cidade e onde é feita a contagem regressiva para a chegada do novo ano. Também passei lá perto, no templo Zozoji, quando estive viajando pelo Japão. Ver a torre toda iluminada, anunciando 2015, foi emocionante!

Passei um Ano Novo diferente no Japão e visitei o Templo Kawasaki Daishi (foto: Tatiana Maebuchi)

Logo pela manhã do dia 1º de janeiro, os japoneses fazem a primeira visita aos templos budistas e santuários xintoístas, chamada de hatsumode. Ainda em minha viagem ao Japão, fui ao Templo Kawasaki Daishi na província de Kanagawa, no sul do país, um dos mais visitados nos três primeiros dias do ano. Em 2013, chegou a receber 2.98 milhões de pessoas, segundo informações da Embaixada do Japão no Brasil. E estava realmente cheio, mesmo o tempo estando nublado com direito a uma leve tempestade de neve.

Depois, seguimos para o Palácio Imperial para saudar o imperador, evento que acontece somente duas vezes ao ano – no aniversário do imperador, dia 23 de dezembro, e no Ano Novo, dia 1º de janeiro.

Eu e outros brasileiros nos juntamos aos japoneses para ver o imperador no Palácio Imperial de Tóquio (foto: Tatiana Maebuchi)

Os japoneses também têm o costume de colocar o kagamimochi – dois mochi, um sobre o outro, decorados com papel japonês, folhas de matsu (pinheiro) e daidai (laranja nipônica) – sobre um altar, como forma de agradecimento aos deuses budistas e xintoístas. Lembro que minha avó paterna fazia isso na casa dela, mas sem o altar.

No bairro da Liberdade, em São Paulo, todos os anos no dia 31 de dezembro, é realizado o Moti Tsuki Matsuri. Durante o festival, são distribuídos ao público cerca de 20 mil saquinhos de mochi e oferecidas 3 mil tigelas de ozoni (sopa com bolinhos da prosperidade).

Além disso, a programação conta com a celebração de uma cerimônia religiosa xintoísta e a realização do ritual de socar o mochi, em que as autoridades presentes são convidadas a participarem. A cerimônia na praça da Liberdade se encerra ao meio-dia, quando no Japão é meia-noite.


Tradições da minha família

Aqui no Brasil, a maioria das pessoas veste roupas brancas na virada do ano para atrair paz. Na infância, quando passava a data com a família, na casa de uma das minhas avós – com meus tios e primos –, até seguíamos esta tradição, mas aos poucos a perdemos. Nos cumprimentávamos, dizendo omedetou – que, na realidade, vem da expressão Akemashite omedetou gozaimasu, um agradecimento pelos pedidos atendidos no ano que termina.

Outro costume que tínhamos era incluir algumas comidas japonesas (como o makizushi, o arroz enrolado na alga,e o manju recheado de azuki, que tem arroz na massa e recheio de doce de feijão) no menu da ceia de Ano Novo. Segundo meu pai, para minha avó, sempre tinha de ter castanha portuguesa, uma tradição que existia na família dela por influência brasileira, talvez por causa de uma amiga próxima. Uma lembrança que tenho é de ver minha avó na cozinha, onde passava horas preparando pratos que só ela mesma fazia, como os bolinhos de gohan rosa com o feijão azuki. Eu e minhas irmãs adorávamos!

Hoje em dia, quando o fim do ano se aproxima, nos preocupamos em fazer uma arrumação na casa. Começar um novo ano, um novo ciclo, com novas (e boas) energias.

Já a ceia é preparada desde o período da tarde para ficar tudo pronto à noite. Enquanto isso, acompanhamos a comemoração de outros países, inclusive o Japão, pela televisão ou até pela Internet. E, quando o relógio marca meia-noite, assistimos aos fogos de artifício da vizinhança e de cidades brasileiras também ao vivo pela TV. No primeiro dia do novo ano, aproveitamos para descansar, já que é feriado.

Quando era criança, a ceia de Ano Novo em família tinha comida brasileira e japonesa, como o manju (foto: arquivo pessoal/Tatiana Maebuchi)

 

© 2015 Tatiana Maebuchi

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About the Author

Nascida na cidade de São Paulo, é brasileira descendente de japoneses de terceira geração por parte de mãe e de quarta geração por parte de pai. É jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e blogueira de viagens. Trabalhou em redação de revistas, sites e assessoria de imprensa. Fez parte da equipe de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo), contribuindo para a divulgação da cultura japonesa.

Atualizado em julho de 2015

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