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Aluno da Escola Seven Arrows Cria DVD Contendo História do Tio de Hiroshima

Cole Kawana, um aluno da sexta série da Escola Seven Arrows, gravou uma narrativa oral do seu tio-avô, Arthur Ichiro Murakami, um sobrevivente da bomba atômica. Em março, o jovem foi ao Japão onde se encontrou com o diretor do Museu Memorial da Paz de Hiroshima, Koichi Maeda, que adicionou o DVD de Kawana à biblioteca do museu.

Kawana, que irá estudar na Escola Harvard-Westlake no outono, teve que realizar um projeto de “serviço-aprendizado” como parte do currículo da Escola Seven Arrows. Há dois anos atrás, ele participou de uma reunião de família em Santa Cruz durante a qual alguns familiares gravaram uma história oral. Kawana reconheceu o valor da experiência e resolveu então ensinar seus colegas sobre o processo de gravação.

Cole Kawana entrevistou o seu tio-avô, Arthur Ichiro Murakami, e esta história oral sobre um sobrevivente da bomba atômica no Japão foi aceita pelo Museu Memorial da Paz de Hiroshima.

Ele deu início ao projeto entrevistando Murakami, nascido em Long Beach em 1931. Murakami morou em épocas diferentes com seus pais e avós, tendo cursado o primeiro gráu numa escola próxima de Torrance [na região metropolitana da Grande Los Angeles]. Em 1941, quando seus avós retornaram a Hiroshima, eles perguntaram a Murakami se desejava ir com eles. Ele concordou. Nove meses mais tarde, Pearl Harbor foi bombardeada e Murakami ainda se recorda de um desfile comemorando o acontecimento.

Kawana perguntou ao seu tio-avô: “Como era ser um cidadão americano no Japão durante a guerra?”

 “Havia algumas pessoas que não nos queria por lá”, Murakami admite, mas de uma forma geral ele foi aceito na escola. Como havia tantos homens em combate, depois das aulas os alunos tinham que ajudar em tarefas diversas. Sua classe trabalhava nos bancos de alimentação, colocando arroz e molho de soja em carroças a cavalo que se dirigiam para as docas, onde os produtos alimentícios eram transferidos para bordo de um navio.

Kawana perguntou ao seu tio-avô se no final da guerra os japoneses ainda acreditavam que sairiam vitoriosos. “[Inicialmente,] nós tínhamos rifles, mas eles haviam sido levados para os soldados. Não havia mais armas. Eles nos disseram que deveríamos pegar varas de bambu, afiá-las e praticar lançá-las para que pudéssemos matar nossos inimigos”, Murakami explicou, dizendo ainda que sem armas, muitos deles não estavam esperançosos.

Se Murakami não tivesse pisado em um prego enferrujado no dia anterior à queda da bomba atômica em Hiroshima em 6 de agosto de 1945, ele teria estado no ponto zero.

“O meu pé estava inchado e eu estava mancando. Quando eles dividiram a minha classe em duas, metade foi para um galpão industrial, e metade foi enviada para limpar a cidade”, disse Murakami, lembrando-se ainda que apesar de fazer parte do grupo que iria para o centro de Hiroshima, ele foi enviado ao galpão situado a quatro quilômetros do local onde a bomba foi detonada. As ondas de choque o jogaram através de uma porta aberta para fora do galpão, onde ele perdeu os sentidos. O prédio foi arrasado. Murakami foi levado ao hospital, mas depois que o sangramento foi estancado, ele foi liberado porque havia um grande número de pessoas com ferimentos muito mais graves.

“Eu fui então para a loja de uniformes do meu tio”, Murakami lembrou-se; para chegar lá, ele teve que passar pelo centro da cidade. “Eu vi muitos corpos nas ruas. As pessoas pediam ajuda, mas se eu as tocassse a pele saía na minha mão. Eu então comecei a correr e procurei não olhar para baixo”. Todos os seus 25 colegas de escola enviados para a cidade morreram no bombardeio.

Em 1947, Murakami foi enviado de volta para a Califórnia, onde descobriu que seus pais haviam sido aprisionados em campos de internamento.

Três anos mais tarde, ele se alistou no exército americano e serviu durante a Guerra da Coréia. Enquanto estava estacionado em Yokohama, ele retornou pela primeira vez a Hiroshima, o que ele admite foi muito difícil. “Eu não queria falar sobre o que aconteceu ou me lembrar”, ele afirmou. “Eu aprendi muitas coisas que as pessoas nunca aprendem. Eu me perguntei: ‘Por que eu [ainda] estou aqui? Para ensinar as crianças o que sei’”.

Na gravação, Murakami reflete sobre a bomba atômica. “Foi algo que os Estados Unidos precisavam fazer e foi a razão para o término da guerra”. Ele disse ainda: “Eu espero que nunca mais joguem uma outra bomba”.

Kawana disse que parte da razão dele ter gravado a história do seu tio-avô foi “uma frase famosa que diz que se você não se lembrar da história, você irá repetí-la”. O jovem também criou um DVD de nove minutos para os alunos da Escola Seven Arrows, o qual ensina como gravar histórias orais.

“Nossas famílias têm histórias que devem ser armazenadas para que as gerações futuras possam aprender com elas. Toda família deve preservar o seu legado único”, explica Kawana, admitindo que a parte mais difícil na criação do DVD foi escolher quem ele deveria entrevistar e decidir que perguntas deveria fazer. Sua parte favorita foi o aspecto “cinematográfico”: o trabalho com a câmera, iluminação, sonoplastia e montagem.

Yuji Kawana, o pai de Cole, disse ainda: “Cole foi ensinado que as gerações anteriores fizeram sacrifícios para que as gerações futuras tivessem uma vida melhor. Este é o legado americano”.

Kawana faz parte de um time asiático de basquete. Além disso, ele surfa, toca piano e recentemente tocou bateria numa tentativa de entrar para a banda da Escola Harvard-Westlake. Durante a entrevista com o seu tio-avô, ele descobriu que os dois praticavam kendo, a arte de esgrima dos samurais japoneses. Devido à natureza militarista do kendo, a prática foi banida logo após a Segunda Guerra Mundial, mas foi reintroduzida em 1952. Murakami alcançou o ranking sétimo gráu de nandon, um dos maiores rankings do mundo.

Kawana e sua irmã Brooke, de dez anos, mora com seus pais, Yuji e Ellen, em Malibu.

* Este artigo foi publicado originalmente no Palisadian-Post em 15 de julho de 2010.

© 2010 Palisadian-Post

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About the Author

Sue Pascoe faz parte da equipe do Palisadian Post há cinco anos. Ela mora em Pacific Palisades [subúrbio de Los Angeles] desde 1994.

Atualizado em dezembro de 2010

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