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Motivos para comemorar: ações do Centenário

Ufa! Com certeza essa é a palavra que muitas pessoas envolvidas nas atividades do Centenário da imigração japonesa disseram e estão dizendo após o mês de junho. As cerimônias oficiais que contaram com presença de ilustres personalidades, como o príncipe herdeiro Naruhito, não finalizaram as comemorações, outros eventos ainda estão programados, mas também há muitas pessoas sentindo-se aliviadas com a tarefa, ou parte dela, realizada. É momento de parabenizar a todos, na ampla acepção da palavra, pelas realizações, pois a difusão das comemorações ultrapassou os limites da comunidade de imigrantes e descendentes de japoneses. Sente-se, como no caso de São Paulo, que a imigração foi japonesa, mas as comemorações foram amplas, reportagens, propagandas comerciais, documentários entre outros, contagiaram o cotidiano de ampla parcela da sociedade brasileira.

É momento de se começar a fazer um balanço, que não se pretende esgotar neste espaço, nem por este autor, as considerações sobre tudo o que foi feito. Fazendo alusão aos primeiros imigrantes, durante o Centenário muito foi plantado para os próximos 100 anos. E aqui duas ações merecem destaque, uma ainda imponderável e outra que poderá dar frutos mais rapidamente. A primeira, diz respeito à difusão de informações sobre o Japão e a segunda é a criação de um portal em japonês na “Vitrine do Exportador” (http://www.vitrinedoexportador.gov.br) no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

A cobertura da mídia sobre o Centenário, particularmente nas localidades onde se concentra uma parcela maior da comunidade japonesa foi, no mínimo, impressionante e foram importantes para o envolvimento da sociedade brasileira nas comemorações. Nesta ação, é interessante lembrar, a relação da mídia com os consumidores da informação é uma via de mão dupla. Não é possível se impor um conteúdo que os leitores, telespectadores e ouvintes não estejam dispostos a receber, numa economia concorrencial em que a audiência é fundamental.

Portanto, uma consideração que se pode fazer, ainda que inicial e merecedora de mais análise, é que há receptividade na sociedade para as relações nipo-brasileiras, confirmando os resultados da pesquisa divulgada recentemente pela Embaixada do Japão no país. As comemorações do Centenário trouxeram uma grande quantidade de informações aos brasileiros, mas longe de satisfazer, devem estimular demandas por mais informações e produtos japoneses no Brasil. E pelo que se observou, nestes últimos meses, há abertura e interesse dos brasileiros em conhecer mais sobre o Japão. Isso é um fato importante, pois a falta de conhecimento mútuo tem sido apontada com freqüência, como um dos elementos que dificultam a intensificação das relações entre os dois países.

No Japão também se nota um crescente interesse pelo Brasil, país que segundo as previsões da Goldman Sachs deverá superar o PIB japonês em meados deste século. E o lançamento da versão em língua japonesa da “Vitrine do Exportador” pelo MDIC, no último dia 11 de junho, é a outra ação merecedora de aplausos, pois viabiliza aos empresários japoneses terem acesso a informações de empresas brasileiras em sua língua nativa, podendo fazer buscas por diferentes critérios, como empresa ou produto. Essa é uma iniciativa interessante para que os produtos e empresas brasileiras ampliem suas oportunidades no mercado japonês. Segundo dados do MDIC, na última década do século XX as exportações brasileiras ficaram praticamente estagnadas, foram US$ 2,35 bilhões em 1990 e chegaram a US$ 2,47 bilhões em 2000. Somente nos primeiros anos do século XXI, elas voltaram a crescer, passando a US$ 4,32 bilhões em 2007.

A abertura desse site em japonês deverá gerar mais oportunidades de negócio para se tentar manter a tendência de crescimento no fluxo total de comércio entre os dois países, no entanto não é suficiente. A ação seguinte é preparar as empresas nacionais para estabelecer relações com o mercado do Japão e aqui, novamente, vê-se a necessidade de ampliar a divulgação de informações. Há outros itens que poderiam ser enumerados como necessários, mas há que se comemorar essa medida do MDIC, que contraria as críticas feitas à passividade brasileira no relacionamento com o Japão.

Portanto, vive-se um 2008 não só de nostalgia dos imigrantes e o sucesso dos festejos, mas também de conquistas, de ações que tornam as comemorações não um fim, mas um meio para que com o aprendizado passado, seja adensado o relacionamento futuro.

 

* Associação Brasileira de Estudos Japoneses (ABEJ), affiliated with Discover Nikkei, contributed this article to Discover Nikkei. ABEJ is a non-profit organization composed of professors and researchers in various fields of study about Japan, in addition to specialists, students, and others interested in Japanese issues.

© 2008 Alexandre Ratsuo Uehara

About the Author

Professor de Relações Internacionais da Faculdade Rio Branco (FRB), vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos Japoneses (ABEJ), Consultor Associado da Nova Investe. Autor do livro, Política Externa do Japão no final do século XX.

Atualizado em 8 de abril de 2009

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