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Capítulo 5 Pinheiros – O Declínio de Um Bairro Japonês

Na cidade de São Paulo e suas redondezas havia algumas áreas chamadas de “bairros japoneses”. Sendo que a área chamada “Conde Kaiwai” era o maior bairro japonês do pré-guerra a durante a guerra seguida pelo bairro de Pinheiros, onde residiam cerca de 200 nikkeis. (Handa, 1970, p.573) e depois pelos arredores do Mercado Municipal, “Cantareira-gai”, cujo o nome vinha do nome da rua. (Ver mapa 5-1)

Mapa 5-1: Bairro Japonês (Clique para aumentar)

O bairro de Pinheiros, localizado a aproximadamente 7 km do centro da cidade de São Paulo era desde antigamente composto de hospedarias ao longo da rota que se direcionava para Sorocaba e Paraná. A partir do século 19, este mesmo bairro, era uma base essencial para o abastecimento de produtos agrícolas na parte oeste da cidade. Em particular o Mercado de Pinheiros que desde a primeira metade da década 20, era um importante ponto de colheita de batata e feijão produzidos por pequenos agricultores nikkeis da periferia de São Paulo, sob direção de Cotia. Nesta época, o Mercado de Pinheiros é descrito da seguinte forma:

Instalado na época do Governo de Albuquerque em 1910, foi chamada de “Mercado de Caipira” devido a uma grande quantidade de pequenos agricultores e trabalhadores rurais reunidos das regiões de Cotia, Una, Piedade, M’boy, Itapecerica da Serra, Carapicuíba entre outros (Cotia Sangyo Kumiai Chuokai Kanko Iinkai, 1987, p.16).

A grande oportunidade da formação do bairro japonês em Pinheiros foi a construção do depósito da Cotia Sangyo Kumiai (Cooperativa Agrícola de Cotia). No Mercado de Pinheiros, citado anteriormente, havia os seguintes problemas. “O mercado estava repleto de produtos colhidos somente por japoneses e havendo uma chuva a maior parte dos produtos ficavam molhados o que provocava a queda brusca dos preços. Houve ocasiões em a que uma ocilação de diária de 23 mil 500 e semanal de 42 mil  (Idem, p.16)”. Assim, é dito que aumentou a necessidade do depósito nesta área. Além disso, os agricultores nikkeis constantemente tinham problemas com a compra de adubos e com atravessadores e consequentemente, havia a necessidade de unirem-se para manter a vida.

Em dezembro de 1927, foi fundada a “Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada dos Produtores de Batata em Cotia” criada por produtores nikkeis de batata de Cotia, Jaguaré, Morro Grande e outras comunidade rurais do subúrbio de São Paulo. Foi o surgimento do que veio a se tornar a maior cooperativa agrícola da América Latina, a Cooperativa Agrícola de Cotia. Foi com a fundação do escritório e depósito desta cooperativa no Largo da Batata no Bairro de Pinheiros que hotéis, pensões e comércios nikkeis como lojas de artigos diversos e restaurantes foram abertas. Em 1933, nesta mesma área foi fundada a reunião jovem de Pinheiros, a primeira organização nikkei e no mesmo ano, foi aberto um ginásio de judô chamado Shoubukan (ACEP, 2005, p.18). As residências dos nikkeis também foram se espalhando na Rua Cardeal Arcoverde, Rua Teodoro Sampaio, Rua dos Pinheiros assim se direcionado à parte central de São Paulo.

Já mencionei anteriormente sobre a estratégia dos Nikkeis em relação à educação na época,  mas a existência de uma escola étnica como instituição de ensino se tornou um grande requisito para concentração de residencial de japoneses ou seja para a formação do bairro japonês. Fundado por Koichi Kishimoto na Rua Consolação (que fica próximo ao centro da cidade) a Gyousei Gakuen foi transferida em 1934 para a Rua Miguel Isasa no Bairro de Pinheiros. Esta mesma escola além do departamento educacional e o pensionato administrava uma lavanderia chamada “Tinturaria Aurora”. Nesta escola havia um sistema peculiar chamada “Kinro-bu”, departamento de trabalho, onde se empregavam os filhos de nikkeis com despesas escolares escassas e os fazia estudar durante a noite. Além disso, em 1938, é cosntruida uma filial da Taisho Shogakko (Escola Primária Taisho) e as aulas são iniciadas pelo casal Tanaka que vieram Bastos, interior do Estado de São Paulo (ACEP, 2005, p.20).

Foto 5-1: Crianças e alunos que participaram da “tarde de entretenimento em Pinheiros” (1935, foto oferecida pelo Sr. Isaku Kishimoto).

Depois da guerra, o líder carismático do Bairro Oriental Tsuyoshi Mizumoto começa a carreira como empresário em Pinheiros. O Mizumoto por recomendação de Koichi Kishimoto foi a São Paulo, trabalhou no Gyousei Gakuen ao mesmo tempo que se dedicava aos estudos. E depois de se tornar independente, ganhou dinheiro dirigindo a própria tinturaria. Em 1948, junto com seus irmãos inaugurou a primeiro comércio de artigos diversos a "Casa Mizumoto" na Rua Cardeal Arcoverde no mesmo bairro. Além disso, posteriormente juntamente com Mizumoto, os irmãos Ikesaki também foram os membros centrais da fundação do Bairro Oriental. Os irmãos Ikesaki abriram o “Comércio Ikesaki” no mesmo bairro, antes expandir para Rua Galvão Bueno, o centro do Bairro Oriental.

Comparando com o “Conde Kaiwai” que desanimou pela ordem de desocupação pelas autoridades durante a guerra, o bairro de Pinheiros havia se tornado no pós-guerra o maior ponto de referência para os nikkeis de São Paulo. A Casa Mizumoto e o Comércio Ikesaki, os comércios que exerciam as principais funções do Bairro Oriental, na época tinham em Pinheiros suas lojas matrizes. E as lojas do Bairro da Liberdade que expandiu em 1950 estavam em posições de filiais e de lojas piloto. Depois da guerra, em 1950, a filial da escola primária Taisho também tornou-se um clube de coletividade nikkei chamada de “Clube Piratininga” que existe até os dias de hoje. Ao vermos o mapa “Coletividade Nipo-Brasilieira de Pinheiro: Distribuicao das Residencia em 1962 (AMARAL, 1985, p.78)” pode se perceber facilmente uma considerável quantidade de residências nikkeis. Também pode-se observar que a prosperidade deste bairro japonês em Pinheiros continuou até a década de 70.

Mapa 5-2: A concentração de Nikkeis de Pinheiros vista pela distribuição das residências (1962) No mapa, os pontos pretos representam a residência de Nikkeis (Clique para aumentar) (AMARAL, Antonio B. do(1985)Pinheiros (3a. ed.) . São Paulo, DPH.)

No começo da década de 50, o progressivo boom brasileiro das empresas japonesas já havia começado, mas o Grupo Yaohan, conhecido como grande rede de supermercado, veio com o segundo boom expansor em 1971. A primeira loja Yaohan Brasileira foi inaugurada em Pinheiros. A revista mensal paulista publicada em língua japonesa escreveu a expansão deste supermercado da seguinte forma:

Em 1970, comprou terras no bairro de Pinheiros de São Paulo. A bandeira da empresa Yaohan era soprada ao vento de outono. Em setembro do ano seguinte em 1971, (capital de 10 milhões de cruzeiros) Yaohan Brasileira abre suas portas com grandiosidade. Assim o supermercado de grande porte vindo da expansão japonesa tornou seu alvo das atenções no ramo.

Conforme o esperado o começo da Yaohan é bem sucedido, os produtos vendiam como água e popularidade atraia mais popularidade. De manhã antes da abertura, a loja estava repleta de gente e as funcionárias vestidas com um uniforme verde claro enfileiradas na entrada da loja, recebiam os clientes com aplausos de alegria e gratidão. Conforme o planejado, os négócios da Yaohan tiveram êxito. (Gekkan Século, abril de 1977, p.49)

Porém, apesar de em 1976 a quarta loja ser aberta na cidade de São Paulo. No ano seguinte, com a inflação ocasionada pela Crise do Petróleo houve depressão retira-se do Brasil insatisfeitos. A Cooperativa Agricola de Cotia dita a maior cooperativa agrícula que já existiu até agora, encerra sua história de 67 anos em 1994.

Kiyoshi Mizumoto, um dos fudadores da Casa Mizumoto diz seguinte:

Antes de se dar conta, havia se tornado em um subúrbio. No início não era assim. Havia a Cooperativa Agrícola Cotia, a Yaohan que veio se expandindo do Japão. Os nikkeis vindos do interior, quando falavam em São Paulo, nada vinham pra cá antes de mais. Havia muita vivacidade, sabe (Viva! São Paulo, Ano II-No.5, junho de 1996).

No final de 2006, o autor caminhou pelas arredores do Largo de Batata em Pinheiros. Nos arredores do largo atualmente, o barulho da construção do metrô da Av. Faria Lima e o trânsito de veículos e pessoas não param. Entrando na rua mais ao fundo, na Rua Fernão Dias entre as variadas lojas funcionam dois restaurantes de culinária japonesa e um comércio que parece ser nikkei. Observa-se o armazém com o escrito no “Casa Ono” pendurado (foto 5-2, 5-3). Quando a estação de metrô for inaugurada o aspecto deste lugar vai provavelmente mudar. Agora enquanto esse bairro vai se desenvolvendo cada vez mais, o bairro japonês de Pinheiros nas narrações dos anciões nikkeis deixam rastros desse sonho.

Foto5-2: Rua Fernado Dias, Pinheiros atualmente 1 (Foto tirada pelo autor em 2006)

Foto5-3: Rua Fernado Dias, Pinheiros atualmente 1 (Foto tirada pelo autor em 2006)

Bibliografia
Cotia Sangyokumiai Chuokai Kanko Iinkai. Cotia Sangyokumiai Chuokai Kanko Iinkai 60 nen no Ayumi. São Paulo, Cotia Sangyokumiai Chuokai Kanko Iinkai, 1987.

HANDA, Tomoo. Imin no Seikatsu no Rekisi: Barsil Nikkei-jin no Ayunda Michi. São Paulo, Centro de Estudos Nipo-Brasileiros de São Paulo, 1970.

AMARAL, Antonio B. do(1985) Pinheiros (3a. ed.) . São Paulo, DPH.

Associação Cultural e Esportiva Pirarininga(ACEP). Pirarininga, 50 Anos: Uma História da Geração Nissei. São Paulo, ACEP, 2005.

Revistas
Gyosei-gakuen Ho No. 8. setembro de 1939.

“Kinkyu tsuiseki!: Yaohan Tsuini Yaburetari”. In. Gekkan Século No. 7. São Paulo, abril de 1977.

“Yuhi no Niau Pinheiros”. In. Viva! São Paulo, Ano II-No.5, junho de 1996.

© 2007 Sachio Negawa

Brasil Japantowns São Paulo (São Paulo)
Sobre esta série

O bairro japonês de São Paulo — sempre que eu me vejo imerso nele, cercado de caos por todos os lados, invariavelmente eu sinto a minha mente como que vazia por um instante e me pergunto: “por que teriam esses japoneses atravessado os mares e construído, do outro lado do mundo, um bairro só deles?”.

Nesta coluna, eu gostaria de dividir com os leitores a história e a imagem contemporânea dos bairros japoneses que eu visitei, procurando não me afastar da pergunta que abre este artigo.

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About the Author

Sachio Negawa é professor-assistente dos departamentos de Tradução e Línguas Estrangeiras da Universidade de Brasília. Mora no Brasil desde 1996. É especialista em História da Imigração e Estudos Comparativos entre Culturas. Tem-se dedicado com afinco ao estudo das instituições de ensino nas comunidades japonesa e asiática em geral.

Atualizado em março de 2007

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