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A Era da Inovação: Nikkeis, Duto da Sabedoria - Parte 1

48ª Convenção dos Nikkeis e Japoneses Residentes no Exterior / 14ª Convenção Pan-Americana Nikkei
“Buscando o desenvolvimento e Papel da Sociedade Nikkei: voltando ao ponto de partida”

Prefácio

Como acabo de ser apresentado, sou Kotaro Horisaka da Faculdade de Estudos Estrangeiros da Universidade Sofia. Desde junho do ano passado, venho assumindo a função de diretor da Associação Kaigai Nikkeijin Kyokai.

A minha especialidade é estudos sobre a Economia e a Política da América do Sul, principalmente do Brasil. Por realizar estudos dos assuntos da América Latina, tenho grande interesse na emigração, nos Nikkeis e nos Nikkeis que trabalham no Japão. Como este campo não é a minha especialidade, quando me convidaram ao cargo, fiquei indeciso em aceitar esta função de “Diretor”. Porém, considerando a notável tendência à globalização de hoje em dia, não somente na área da Informação e das Finanças, ocorre uma rápida unificação de diversas culturas, devido ao movimento de pessoas, e cheguei à conclusão de que o modo de pensar dos Nikkeis também deve ter mudado. Desta maneira, aceitei o cargo, com a intenção de poder serví-los, usando os meus conhecimentos e a minha visão.

A Associação Pan-Americana dos Nikkeis, fundada em 1981 pelos Nikkeis das Américas, que tiveram papel central, desta vez, realizará a Convenção em forma conjunta. É evidente que esta tendência projeta admiravelmente a mudança de geração que envolve os Nikkeis. Esta é a segunda vez que a Associação Kaigai Nikkeijin Kyokai realiza uma convenção fora do Japão. Decorreram 39 anos desde maio de 1968, quando foi realizada a 9ª Convenção no Havaí, para comemorar o Centenário da Emigração ao Havaí. Sem dúvida, a mensagem desta Convenção Geral, destinada ao Japão e ao mundo inteiro, terá um grande significado.

Considerando este ponto, a minha palestra nesta Reunião dos Representantes foi intitulada a “Era da Inovação: Nikkeis, Duto da Sabedoria”. O significado do ideograma “?(Chi )”, em Inglês, é “Wisdom ” e, em Português, é “Sabedoria”. Os Nikkeis, por vários anos, vêm assumindo a posição de “Ponte de Interligação” entre o Japão e os países do Exterior. Sem dúvida, esta função será mantida. Não obstante, estando numa era da inovação (renovação), quando é necessário utilizar a sabedoria dos seres humanos a nível internacional, em vez de manter somente a posição de ponte, acredito ser necessário estudar a possibilidade da etnicidade nikkei “Japonês, Japonés, Japanese ” servir como uma via principal, difundindo em ambas as partes, a “Sabedoria” cultivada no Japão e nos países de origem. Este é o tema sobre o qual penso pronunciar.

O “Ponto de origem da Sociedade Nikkei fora do Japão”, tema geral da presente Convenção, age como suporte a este tipo humano. Em outras palavras, surgem as imagens dos emigrantes que vieram abrindo caminho com as próprias mãos, no mundo desconhecido.

1. Convenção dos Nikkeis: O espelho que reflete a História

Com o objetivo de preparar a palestra do conceito básico, fiz o re-exame histórico das Convenções dos Nikkeis e Japoneses Residentes no Exterior. Contando a freqüência de realização destes encontros, até a presente 48ª Convenção, transcorreu exatamente meio século desde a primeira convenção, realizada em maio de 1957. Existe uma diferença entre o número de convenções e o número de anos, porque a segunda convenção foi realizada alguns anos depois da primeira. Os vestígios das convenções, sem dúvida, são um espelho que veio projetando a História dos Nikkeis durante 50 anos.

A primeira convenção foi realizada com o título “Convenção de Comemoração da Participação nas Nações Unidas e Confraternização dos Nikkeis fora do Japão (Primeira Convenção dos Nikkeis e Japoneses Residentes no Exterior)”. Seis anos após o Tratado de Paz e um ano antes da realização da Convenção, o Japão participou nas Nações Unidas, em 1956, recuperando-se da derrota sofrida na Segunda Guerra Mundial. Foi quando o Japão voltou a participar da sociedade internacional, marcando época. Gostaria de dizer algumas palavras sobre um assunto particular. Foi justamente nesta mesma época em que pisei pela primeira vez o Território Brasileiro, chegando num barco emigrante, devido à transferência do meu pai. A realização da Primeira Convenção teve como origem, o envio do caloroso apoio dos Nikkeis da América do Norte e do Sul, logo após a Guerra, ao exaurido povo Japonês, que sofria as conseqüências da calamidade da guerra. Este auxílio, denominado “Provisão Lara”, foi realizado pela Organização Oficial de Apoio à Ásia (Licenced Agency for Relief in Asia), composta por grupos cristãos e sindicatos dos Estados Unidos.

Com o objetivo de agradecimento ao empreendimento, a Convenção foi realizada graças aos esforços de vários parlamentares. Na inauguração, estiveram presentes os presidentes de ambas as Câmaras, os principais membros do gabinete do Governo, parlamentares, governadores da Províncias e vários representantes dos círculos econômicos. Devido à Guerra, o Japão caminhava rumo a tornar-se um “país isolado” dentro da sociedade internacional, sendo indescritível a profundidade do sentimento de quanto a existência dos Nikkeis no Exterior serviu como força espiritual.

Naturalmente, não foi somente uma expressão de agradecimento. Houve a forte intenção de obter a cooperação dos Nikkeis fora do Japão na reestruturação da política de emigração, como medida de desafogo para o excesso demográfico, expandir o comércio com o Exterior e atrair turistas. A emigração pós-guerra teve início em 1952.

O tempo não me permite que apresente os detalhes posteriores de cada convenção, porém, até a 47ª Convenção realizada no ano passado, soma-se o total de 17.247 participantes Nikkeis. Neste número, não estão incluídos os participantes japoneses residentes no Japão. Não sei se o número de 17.247 participantes é pouco ou muito. Que diriam os Senhores aqui presentes ?

Neste número, incluem-se os bolsistas que estudam no Japão ou pessoas que participam várias vezes. Tanto no ano 2003, com 130 participantes, quando se registrou o menor número, como no ano 1970, que contou com 1012 participantes, quando se reuniram no Japão o maior número de Nikkeis, o fato do intercâmbio de opiniões repetir-se 47 vezes, tem um grande significado. Em relação à participação das nações, o ano em que teve menos participação, contou com 5 países (quando foi realizada a Convenção do Havaí, a primeira convenção fora do Japão) e, no ano 2001, houve a participação de 21 países. O índice médio de participação por convenção, excluindo o Japão, é de 367 Nikkeis provenientes de 12.8 países.

Gostaria de apresentar os seguintes 3 pontos, que me chamaram a atenção, revisando o transcurso da era.

Primeiro: Após 1999, desde o momento em que se começou a ouvir sobre a entrada no novo século, veio ocorrendo extraordinária redução do número de participantes Nikkeis. Por outro lado, veio aumentando o número de países. Entre a 40ª e a 47ª Convenção, a média de comparecimento nestas 8 convenções foi de 206 participantes Nikkeis, um pouco mais da metade da média de participantes até a 40ª Convenção. A média em relação ao número de países participantes é de 17.3 países, tendo um aumento de 50%, comparando-se com a média dos países que participaram até a 40ª Convenção. Isto deve depender da situação mundial e inclusive do Japão ou da situação econômica do Japão e dos países participantes, aspectos que podem ter influenciado no ano da realização. Não obstante, penso que a “Mudança de Geração” e da difusão regional da comunidade dos Nikkeis são dois fatores que devem ter influenciado nas cifras.

Segundo: Gostaria de fazer uma menção sobre a posição da Kaigai Nikkeijin Kyoukai dentro do Japão, que é o principal organizador da Convenção dos Nikkeis e Japoneses Residentes no Exterior. Durante meio século de História, veio-se caminhando para estabelecer a posição da presente Kyoukai, como “Portal” do Japão em prol dos Nikkeis residentes no Exterior. Por outro lado, a partir da década do ano 1990, a Kyoukai está no curso de procura de uma nova função, devido à mudança da situação internacional e da Sociedade Nikkei e às conseqüências da reestruturação administrativa governamental.

A Convenção dos Nikkeis e Japoneses Residentes no Exterior vem sendo realizada todos os anos, a partir da 3ª Convenção do ano 1962. Desde a 5ª Convenção, em 1964, tem contado com a participação da “Associação Nacional do Governadores” e a partir desta ocasião, o presidente da Associação vem assumindo o máximo cargo, que é o presidente da Kyoukai. Na 6ª Convenção, realizada no ano 1965, houve a presença da Família Imperial e a 40ª Convenção do ano 1999 foi assistida pelo Imperador e pela Imperatriz. Tenho na memória que foi solicitada várias vezes, por parte dos Nikkeis, a construção do “Centro dos Nikkeis fora do Japão”, como um lugar de intercâmbio, em Tóquio.

Não obstante, desde aproximadamente 1990, quando vários Nikkeis dos países da América do Sul, principalmente do Brasil, começaram a vir ao Japão com objetivo de trabalhar, houve uma grande mudança no ambiente que rodeava a Kyoukai. Devido às contínuas críticas à situação econômica do Japão, denominada “década perdida”, as empresas e o governo foram forçados a fazer a reestruturação, impossibilitando manter a posição de apoio que faziam antes, quando o país estava no curso de crescimento econômico.

A JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão), organização que realizou o apoio aos emigrantes por vários anos, após finalizada a emigração em grupo, transferiu a maioria dos empreendimentos relacionados aos Nikkeis fora do Japão à Kyoukai, que trata especialmente destes temas. A JICA, atualmente, consigna 20 empreendimentos à Kyoukai, incluindo a administração do “Museu Histórico da Emigração Japonesa”, etc.. Lamentavelmente, a “Confederação Japonesa das Famílias dos Emigrantes” foi dissolvida em 1999. Isto também é o reflexo do transcurso das eras. Por outro lado, foi inaugurado o “Centro de Consultas aos Nikkeis” no ano 1991, para oferecer suporte aos trabalhadores Nikkeis; no ano 2004, foi estabelecido o “Centro Pedagógico de Sucessão do Idioma Japonês”; no ano 2005, foi criada a “Comissão da Rede Internacional dos Nikkeis”, e assim por adiante.

Aqui, gostaria de falar sobre a Kyoukai, que veio estabelecendo a posição de “Portal” do Japão, em prol dos Nikkeis. Sem embargo, encontra-se atualmente numa situação em que necessita continuar expressando a “raison d´être” (razão de existir), que convença os Nikkeis fora do Japão e também o povo japonês. Em outras palavras, não se consegue realizar suficiente e adeqüadamente as atividades adaptadas à era da globalização. Desejo, assim, poder receber diversas idéias dos Senhores aqui presentes.

Como terceiro ponto, revisando os vestígios da Convenção dos Nikkeis e Japoneses Residentes no Exterior, pode-se dizer que os participantes mudaram sua posição, passando de “proposta” para “resolução”. A convenção realizada todos os anos era um lugar de confraternização dos Nikkeis e, ao mesmo tempo, um lugar para manifestar as propostas ao Japão. A primeira vez em que uma proposta foi aceita, foi na 3ª Convenção, realizada em 1962. Neste encontro, foi feita a promessa de cumprimento das seguintes propostas: 1) Estabelecimento do Centro dos Nikkeis do Exterior; 2) Promoção da emigração; 3) Financiamento aos emigrantes; 4) Publicidade do Japão, através das organizações dos Nikkeis, etc.. À medida em que foi mudando a era, foram adicionadas as seguintes propostas: “Apoio às 1ª e 2ª gerações idosas”, “Reconhecimento às vítimas da Bomba Atômica que residem no Exterior”, “Melhoria do ambiente de trabalho dos Nikkeis residentes no Japão”, “Consideração aos Nikkeis da Coréia e das Filipinas”, “Participação dos residentes no Exterior nas eleições, efetivada pelo governo Japonês”, etc..

Especialmente a proposta sobre a intensificação do ensino da língua japonesa veio sendo manifestada todos os anos. Recentemente, vêm chamando a atenção as propostas sobre a importância do ensino do idioma japonês, considerando-se os Nikkeis da terceira geração ou após, e sobre o problema de sucessão da identidade dos Nikkeis.

A partir da 45ª Convenção do ano 2004, passou-se a adotar o sistema de “resolução”, paralelamente ao de “proposta”. Vou-lhes apresentar as 4 principais resoluções, dentre 6 itens de resolução da 47ª Convenção:

    1) Introdução da dinâmica para a nova prosperidade e desenvolvimento da Sociedade Nikkei fora do Japão, remontando à História da Emigração e da Sociedade Nikkei.

    2) Promoção da participação da nova geração na Sociedade Nikkei, como Nikkeis; mudança dinâmica de geração das respectivas organizações da Sociedade Nikkei, visando o seu fortalecimento.

    3) Emprego do máximo esforço no ensino do idioma Japonês aos Nikkeis.

    4) Empenho do maior esforço para solucionar os diversos problemas que ocorrem no trabalho, facilitar e estabilizar o trabalho, considerando que o trabalho dos Nikkeis contribui grandemente na prosperidade do Japão, o que solidifica ainda mais o laço entre a Sociedade Nikkei e o Japão.

Foram manifestadas 2 “propostas” na 47ª Convenção. Uma foi a “Colaboração na Comemoração do Centenário da Emigração ao Brasil” e outra, o “Projeto de promoção da participação nas eleições pelos residentes no Exterior”. Nas convenções realizadas após o ano 95, em todos os anos, foram apresentadas 10 ou mais “propostas”, sendo evidente que vem ocorrendo uma mudança de posicionamento.

Creio que este fenômeno deve-se ao fato de que as convenções, que antes eram organizadas pelo Japão, quando os participantes Nikkeis do Exterior eram considerados “convidados”, agora, passaram a contar com os Nikkeis assumindo as funções principais. A partir da 45ª Convenção do ano 2004, o cargo de presidente da Reunião dos Representantes, realizada anualmente, foi assumido por um Nikkei do Exterior e também, na 46ª Convenção do ano anterior, foi organizada a “Reunião dos Jovens”. Estes fenômenos devem ser o motivo de ser realizada, desta vez, a 48ª Convenção em forma conjunta com a 14ª Conveção Pan-Americana Nikkei.

Um novo “odre” para um novo vinho começou a ser preparado, para facilitar a participação das novas gerações. Penso que a presente convenção registrará uma significativa nova página da História.

Parte 2 >>

© 2007 Kotaro Horisaka

comunidades Convenções da Associação de Nikkeis Pan-Americanos COPANI 2007
Sobre esta série

Este é uma série de artigos e relatos sobre a Convenção Conjunta COPANI & KNT realizada entre 18 e 21 de julho de 2007 em São Paulo.

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About the Author

Kotaro Horisaka é professor da Universidade Sophia em Tóquio, onde faz parte do corpo docente do departamento de Estudos Estrangeiros, além de presidente do Instituto Iberoamericano. Ele é graduado pela Universidade Cristã Internacional. Ele é especialista em Estudos Latino-Americanos, particularmente economia política. Antes de se tornar professor na Universidade Sophia, Kotaro atuou como jornalista na Divisão de Ações do Nihon Keizai Shinbun ( Nikkei Shinbun ), assistente de pesquisa no Centro de Desenvolvimento Internacional do Japão, jornalista na Divisão de Indústria e na Divisão de Notícias Estrangeiras do Nikkei. Shinbun, e correspondente estrangeiro na América Central e do Sul por 4 anos, onde conduziu trabalho de campo e cobriu notícias em países da América Latina, especialmente no Brasil. Também analisou as tendências da integridade regional do continente americano, com foco no MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), nas indústrias e empresas da América Latina e na política e economia brasileira.

Atualizado em novembro de 2007

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