* Nota do Editor: Este artigo foi escrito em resposta a World Cup: Even Twenty Years Later, It was a Night to Remember (Copa do Mundo: Mesmo vinte anos depois, uma noite a ser relembrada) por John Katagi.
Esta será conhecida como a Copa da Vergonha.
Brasileiro nunca teve muito orgulho de sua origem: os europeus têm historia e conquistas; os povos semitas têm milênios de tradições, os gringos americanos têm poder e realizações e nós??? Bem, a parte que nos cabe deste latifúndio não era o mundo, mas algo igualmente redondo: a bola, a pelota, o futebol.
A Copa era um dos únicos momentos em que sentíamos orgulho de sermos brasileiros (depois que o Senna se foi, era o que tinha pro consumo). Até eu, um ser totalmente alienado deste jogo de origem bretã, esboçava alguma animação assistindo a um jogo da seleção canarinha. Em 1998, morando na Gringa, falava com orgulho do esporte que era nosso, que estava em nosso DNA, seguro que a conquista era nossa. Bem, mas isso até aquele fatídico jogo contra a França, até hoje muito mal explicado. Meus amigos gringos ficaram com pena de mim e eu não tinha como explicar pra eles. Patético.
Passados 16 anos, a Copa será aqui mesmo no Brasil, para onde retornei. No entanto, mais patético do que me senti em 98 é o entusiasmo geral pelo que deveria ser a maior festa tupiniquim. Aqui mesmo, no prédio classe média onde moro, pouquíssimos são os que esboçam qualquer entusiasmo.
Tivemos em 2013 uma chama de esperança entusiasmada com as manifestações legítimas e pacíficas de Junho. Contudo, estas foram habilmente esvaziadas pelo governo que usou grupelhos radicais para amedrontar a população que clamava por mudança.
E hoje, só nos resta a vergonha.
Vergonha de dar valor a uma competição que, declaradamente, roubou os cofres do país. "O que tinha que ser roubado já foi!", declarou alguém do meio. Vergonha de darmos mais importância a um jogo do que a tantas outras coisas mais importantes. Tantas coisas que já virou até cliché: saúde, educação, segurança etc, etc. No íntimo, sabemos que já fomos derrotados e envergonhados em todos os parâmetros que importam alguma coisa.
Nós já perdemos o jogo, pelo menos aquele que importa.
E, com essa derrota, mais do que os Bilhões roubados, conseguiram tirar de nós uma coisa muito mais preciosa: o orgulho, a alegria e a espontaneidade que manifestávamos nos campeonatos. Hoje, até esse pequeno traço de nacionalismo, que só se manifestava nestes momentos, morto está. Triste.
Só me resta esperar e rezar por dias melhores. Aliás, mais do que rezar, votar! E que através do voto saia aquele gol da virada, nem que seja aos 47 minutos do segundo tempo.
© 2014 Eduardo Suga