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Futebolistas Nikkeis: Histórias por trás da bola - Parte 1

A AELU foi integrada por vários jogadores nikkeis, tais como o goleiro Alberto Akatsuka, Tito Takayama, Gabriel Kanashiro, Roberto Yamamoto, Christian Kanashiro e Willy Uehara. Crédito: Arquivo pessoal de Alberto Akatsuka.

A paixão pelo futebol não conhece limites e contagiou muitos dos descendentes daqueles japoneses que chegaram no Peru há mais de 90 anos. Oriundos de um país pouco fã de futebol, eles encontraram nestas terras um grande interesse pelo esporte – o que os levou a participarnele de forma profissional, dos anos 50 até o presente, chegando muitos deles a entrar para a seleção nacional.

Alguns nomes acabaram esquecidos devido à falta de registros, ou passaram despercebidos na longa lista de jogadores de futebol peruanos, competindo em categorias inferiores ou juvenis, além de torneios da segunda divisão e das ligas regionais. Outros chegaram a ser ídolos de diferentes times em Lima, Huaral, Chiclayo e Talara, e até mesmo no exterior.

Poucos sabem que uma família ilustre de jogadores peruanos dos anos 50 tem sobrenome japonês pelo lado da avó materna. Os irmãos Ruiz La Rosa, nascidos em Huaral, são filhos de Antonia La Rosa Matsuda. Era a época quando osnisseistinham vindo trabalhar nas fazendas das regiões agrícolas. Lá, os oito irmãos da família Ruiz aprenderam o trabalho do campo e a chutar bola como poucos.

Os irmãos Ruiz

Daniel, Jaime, Eusebio, Manuel, Pedro, Enrique, Víctor Manuel e Claudio se dedicaram ao futebolcom grande sucesso. Daniel era atacante e foi artilheiro durante três temporadas com o Universitario de Deportes, um dos clubes mais populares e bem-sucedidos do país. “El Chino”, como foi apelidado, fez 105 gols na primeira divisão, categoria na qual defendeuos times Mariscal Sucre e Juan Aurich, além da seleção peruana.

Seu irmão Jaime participou nos Jogos Olímpicos de Roma em 1960 e também jogou com o Aurich de Chiclayo. Juntos, eles foram campeões em 1959 e no ano seguinte repetiram a dose com o seu irmão Manuel no time. Mas talvez o mais bem-lembrado dos irmãos Ruiz é o Pedrito1, que estreou no time Óscar Berckemeyer e foi campeão com o Defensor Lima em 1973 e o Unión Huaral em 1976, clube no qual ele se tornou ídolo histórico.

Além disso, ele ganhou a Copa América em 1975 (o que lhe trouxe coroas de louros esportivos) antes de passar para o Sporting Cristal, com o qual recebeu outro título em 1983. Em 2002, Pedrito foi nomeado treinador do Unión Huaral, que vinha competindo na segunda divisão; no mesmo ano, eleconseguiu fazer o time passar à primeira divisão. Hoje, com quase 70 anos, vive na sua cidade natal, onde no ano passado ele voltou a treinar o seu timefavorito.

Os anos 60

Nos anos 50 e 60, outros irmãos nikkeis brilharam no futebol peruano. Thomas e Mario Iwasaki, da cidade de Talara, jogaram no Universitario de Deportes e no Atlético Grau. O primeiro foi campeão com os irmãos Ruiz e ainda jogou na Copa América em Buenos Aires em 1959, na qual enfrentaram o poderoso Brasil de Pelé. Além disso, ele participou nos Jogos Olímpicos de Roma em 1960, onde jogou contra a seleção da Índia, com o Peru saindo vencedor por 3 a 1.

Da mesma épocaéJuan Nakajata Ayllón, da província de Cañete, e artilheirodo Sport Boys deCallao e da Alianza Lima, com a qual obteve o título de 1962, como também Antonio Vallejos Hayeshida, defensor que se tornou em ídolo do Juan Aurich após jogar pelo Defensor Arica. “Eu não podia ir ao mercado sem que me dessem todas as compras de presente”, lembra Antonio, acrescentando que naquela época os jogadores não eram tão bem pagos como hoje em dia.

Por isso, quando teve a oportunidade de trabalhar no Japão ele não hesitou e foi embora no início dos anos 70. No papel de compositor, dedicou uma canção ao Juan Aurich, e há dez anos retornou ao Peru, onde “Pocho” Vallejos se reúne de vez em quando com cerca de 30 ex-jogadores da sua época, ídolos que foram seus companheiros ou contra os quais jogou, tais como o seu grande amigo Héctor Chumpitaz, Julio Melendez e Ramón Mifflin.

A estrela de Hirano

Mais de 10 anos se passariam até que outro nikkei se tornasseuma personalidade do futebol peruano. No final dos anos 70, Jorge “Koki” Hirano Matsumoto estreou no Unión Huaral, time da sua cidade natal; mas foi apenas depois de se mudar para a Bolívia em 1986 que ele entrou para a história do clube Bolívar de La Paz2, com o qual ganhou duas competições nacionais e chegou a se tornar um dos seus maioresartilheiros (ele fez 139 gols em oito anos).

Jogando na seleção peruana, ele fez 11 gols e disputou três campeonatos da Copa América (87, 89 e 91). Seu irmão Miguel jogou com ele no mesmotime na Bolívia, junto com a geração de maior sucesso do futebol boliviano. O esguio “Koki” também foi um dos primeiros peruanos ase mudar para o Japão para se dedicar ao futebol profissional. Isso aconteceu em 1980, quando ele se uniu ao Fujita Kougyou. Atualmente, ele reside em Chiba, no Japão.

A velocidade e a habilidade de Hirano puderam ser apreciadas no Peru até 1994, quando jogou no Sport Boys depois de passar pelo Deportivo Sipesa. Outro jogador nikkei do seu tempo foi Juan José Sato Tarazona, que estreou em 1975 no Deportivo Municipal, e queentrou para o time juvenil dois anos depois. Nos anos seguintes, os nikkeis tinham um clube que os permitia jogar na primeira e na segunda divisão: A Associação Estádio La Unión: AELU).

Os anos da AELU

Fundada em 1982, a AELU competiu na liga distrital de Pueblo Libre e acabou convidadaà segunda divisão, subindo de categoria em 19873. Ela foi integrada por um grande número de jogadores nikkeis. Robert Yamamoto Tsuda foi capitão do time verde que tinha ainda Alberto Akatsuka Matsuda como goleiro (Lima, 1966), que havia anteriormente jogado no Deportivo Municipal (e de integrar um time juvenil), no qualganhou o carinho dos fãs.

“Eu me lembroque quando estava jogando pela AELU enfrentei o Municipal e os torcedores rivais gritavam o meu nome”, diz Alberto do Japão, onde reside. Robert Yamamoto foi a grande figura daquele time, jogando tanto na defesa quantono ataque (além disso, ele foi campeão nacional de judô). Desde a sua estreia no futebol infantil no timeNisei Breña, (junto a outros nikkeis como Aldo Hayashida, Javier Gushiken e Joe Oshiro), ele foi um dos jogadores mais destacados, integrando uma pré-seleção em 1983. Em seguida, jogou no Unión Huaral e no Defensor Lima.

Na AELU também jogaram na segunda divisão: Manuel Miyagusuku, Danny Fukusaki, Juan José Sato, Alex Maruyama, Gabriel Kanashiro, Juan Nakaya e Pedro Tokashiki, liderados por Héctor Chumpitaz. Na década de 90, surgiram nomes como Christian Kanashiro (que chegou a jogar no “U”), Héctor Takayama e os irmãos William e Edwin “Cholito” Uehara Kaneku, assim como o seu primo William Uehara Gibu.

Edwin passou um período jogando no Universitario de Deportes e no futebol japonês, especificamente no Urawa Red Diamonds (92-95) e no Sagan Tosu em 1996. Apesar da AELU não ter se sobressaídono torneio profissional da primeira divisão, sendo rebaixada de categoria em 1992, ela conseguiu alcançar uma certa fama numa época durante a qualo futebol peruano carecia de sucessos. Não passariam muitos anos até que novas personalidades fossem adicionadas à lista.

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Notas

1. O grande Pedrito Ruiz
2. Jorge Hirano: Kamikaze no Altiplano
3. Uma estreia verde

 

© 2017 Javier García Wong-Kit

About the Author

Javier García Wong-Kit é jornalista, professor e diretor da revista Otros Tiempos. Autor de Tentaciones narrativas (Redactum, 2014) e De mis cuarenta (ebook, 2021), ele escreve para a Kaikan, a revista da Associação Peruana Japonesa.

Atualizado em abril de 2022

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