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As diferentes gerações nikkeis em minha família

As diferentes gerações de minha família, dos meus avós meus pais e a minha, têm visões distintas dos costumes japoneses (foto: arquivo pessoal/Tatiana Maebuchi)

Parei para pensar e comparar as gerações dos meus avós, meus pais e a minha e de minhas irmãs. Além da diferença de idade, existem também a diferença cultural e a adaptação às tradições japonesas. E tudo isso torna cada geração bem diferente uma da outra.

Vida e convivência

Para começar, meus avós se estabeleceram e fizeram a vida no interior, onde meus pais cresceram. Mas tanto meu pai como minha mãe veio para São Paulo para fazer faculdade e eles vivem aqui até hoje.

Já eu, minhas irmãs e primos, com exceção de um que está no interior, moramos em São Paulo. Na realidade, como estou acostumada com a vida na metrópole, não me imagino no interior.

Além disso, percebi que meus avós têm mais contato com a comunidade nikkei, enquanto eu e minhas irmãs quase não convivemos com descendentes. Uns primos da família por parte de mãe, quando moravam no oeste paulista, chegaram a participar das atividades voluntárias do Bunkyo da cidade. Enquanto isso, trabalhei durante um ano e meio no Bunkyo de São Paulo.


Diferentes costumes culturais

Algo que meus comentam hora ou outra quando se lembram da vida no interior é que frequentavam eventos da comunidade específicos da cidade onde moravam. Meu pai tem memórias dos barquinhos do Tooro Nagashi, em Registro, e minha mãe se recorda que participava do Shokonsai, em Álvares Machado, um culto religioso às almas dos antepassados. Já em São Paulo não adquirimos este costume.

Um ponto cultural que também observei é que meus avós sempre tiveram mais afinidade com o idioma japonês. Mesmo porque meus bisavós eram imigrantes.

Meus pais estudaram a língua japonesa na escola e falavam um pouco com meus avós no dia a dia. De vez em quando, meu pai e minha mãe usavam palavras japonesas misturadas com português para falar comigo e minhas duas irmãs.

Eu aprendi algumas palavras, expressões e números com minha avó paterna quando era criança e já adulta fiz dois anos de aula do idioma. Minha irmã mais nova fez alguns anos de curso também e sabe um pouco mais que eu. Mas minha irmã do meio não teve interesse em estudar japonês.

Mais outra coisa que observei é que minhas avós sempre prepararam comidas típicas japonesas – arroz mochi com azuki, manju, sushi... Em casa, minha mãe cozinhava mais pratos quentes, como o misoshiru e gobo (bardana). Mas na maioria das vezes eram pratos brasileiros. E meu pai sempre lembra que minha avó fazia um gohan temperado que ela chamava de abura gohan.

Hoje, minha irmã mais nova é mais ligada à culinária japonesa e ela é quem mais cozinha no estilo asiático. Mas tanto ela quanto eu e minha outra irmã aprendemos a preparar algumas comidas por conta própria, porque antes comida japonesa era só em restaurantes.

Apesar disso, nos dias atuais, alguns itens – como sushi, tofu (“queijo” de soja), natto (soja fermentada), cogumelos (shimeji e shitake), entre outros – estão mais acessíveis e podem ser encontrados em mercados voltados à comunidade nipo-brasileira e também aos amantes da cultura japonesa. Existem até legumes já cortados para o preparo do yakisoba.

Um costume bem conhecido entre descendentes de japoneses é o miai, o casamento arranjado entre nikkeis, tradição que meus avós acabaram seguindo. Durante minha infância, ouvia com bastante frequência os adultos citarem este termo nas conversas.

Na vez dos meus pais – e tios também, a preferência era por descendentes de japoneses. Esta preferência parece que deixou de existir em relação à minha geração. Algumas vezes, minha mãe ou meu pai faziam brincadeiras envolvendo minhas irmãs e eu, dizendo que casaríamos com “japonês”. O que penso ser mais importante para eles é que nossos companheiros sejam boas pessoas, independentemente de serem nikkeis ou não.

Descobri que no Brasil existem até empresas que promovem eventos no estilo speed dating (encontro rápido) direcionados a solteiros descendentes.


Fim de ano

A importância e o hábito de fazer faxina de final de ano (oosouji ou “a grande limpeza”, em português) aprendi com meus pais. Os japoneses acreditam ser bom para circular energia e deixar novas entrarem com a chegada do novo ano.
Também quando éramos criança, eu e minhas irmãs recebíamos dinheiro em um envelope branco de presente de Ano Novo (otoshidama) das nossas avós. Minha avó paterna inclusive escrevia o nome japonês de cada uma em hiragana. Depois de alguns anos, tornou-se costume nossas avós nos presentearem no aniversário ou Natal desta mesma forma, algo que minha tia – irmã do meu pai – fez durante um tempo.


Tradições e o que muda

Estas tradições que comentei parecem um pouco ultrapassadas hoje em dia. Eu mesma não conseguiria me imaginar colocando estes costumes em prática. Isto tem a ver não só com a proximidade de nossas raízes, mas também com os novos valores e hábitos que as passamos a ter.

É natural que esta mudança aconteça. E não só entre os nikkeis – entre descendentes de outras nacionalidades também. Agora não posso afirmar se isto é bom ou ruim, só saberemos com o tempo.

 

© 2017 Tatiana Maebuchi

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About the Author

Nascida na cidade de São Paulo, é brasileira descendente de japoneses de terceira geração por parte de mãe e de quarta geração por parte de pai. É jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e blogueira de viagens. Trabalhou em redação de revistas, sites e assessoria de imprensa. Fez parte da equipe de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo), contribuindo para a divulgação da cultura japonesa.

Atualizado em julho de 2015

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