Descubra Nikkei

https://www.discovernikkei.org/pt/journal/2014/9/29/nipo-brazilian-radio/

Ondas nipo-brasileiras do rádio

No Brasil, atualmente, existem duas rádios cuja programação é dedicada à cultura oriental, em especial, à japonesa.

A Rádio Nikkey é a mais antiga delas, em operação há mais de 20 anos. Hoje, o programa é transmitido como parte da grade da Rádio Imprensa e pela internet.

Mais recente, a Rádio Banzai tem sua origem remota em 2005, sob o nome de Rádio Fenix. Oficialmente e com seu nome atual, a rádio transmite sua programação desde 2007, sempre pela internet.

Brasileiros de todas as origens

A programação da Rádio Nikkey é feita em português, com o locutor Paulo Miyagui, 66 anos, descendente de segunda geração, e em japonês pela locutora Mieko Senaha, japonesa da província de Okinawa.

Antes restrito à comunidade de japoneses e descendentes, o perfil do ouvinte de ambas as rádios tornou-se mais amplo.

"Hoje, ainda temos ouvintes das velhas gerações e também brasileiros de outras origens. Antigamente, esse público estranhava tudo que era japonês. Nós procuramos fazer, além da música, uma transmissão mais popular, para o brasileiro que quer conhecer a cultura japonesa", afirma Miyagui, que também é fundador e produtor da Rádio Nikkey.

"O perfil de nossos ouvintes está bem distribuído entre Nikkei e não Nikkei", conta Claudia Nakazato, descendente de segunda geração, coordenadora artística da Rádio Banzai. "Hoje há muitos não descendentes que realmente gostam da cultura oriental, que vão atrás e se informam. Muitos participam da nossa programação, pedem música e já começam a entendê-la um pouco", completa.

Paulo Miyagui e Mieko Senaha são os locutores da Rádio Nikkey. Foto: Rádio Nikkey  

Língua japonesa

"Nosso objetivo é a preservação e divulgação da cultura japonesa no Brasil", afirma Miyagui. Essa observação refere-se à progressiva integração dos Nikkeis na sociedade brasileira – atualmente, o grau de descendência alcança a sexta geração.

"O Nikkei, pela própria valorização da cultura, pelo prestígio que o Nikkei desfruta aqui, está voltando às suas origens. Eles gostam da cultura, têm orgulho das tradições", continua.

Nas transmissões da Rádio Nikkey, existe alternância entre os idiomas português e japonês. Além de Miyagui e Mieko, o locutor Junji Yokochi apresenta em japonês a seção sobre J-pop.

Miyagui defende a utilização do idioma nas transmissões. "O Junji fala sua parte em japonês, e a Mieko sempre participa falando em japonês. Tem também algumas aulinhas e brincadeiras. O aprendizado do idioma é importantíssimo, tanto pelo mercado de trabalho como pela valorização da cultura".

Apesar de não utilizar o idioma japonês nas transmissões da Rádio Banzai, o locutor Leandro Jinu, 29, descendente de terceira geração, conta que é preciso ter alguns cuidados.

"Falo algumas expressões básicas como 'ohayou gozaimasu' (bom dia) e 'arigatou' (obrigado). Tomo cuidado especial com a pronúncia correta dos nomes das músicas e artistas, como os japoneses os conhecem. Por exemplo, existe uma banda japonesa chamada D-51, que é chamada de di-go-ichi", destaca Jinu.

A Rádio Banzai também conta com músicas coreanas e chinesas em seu acervo. "O foco da rádio sempre foi a música japonesa, que tem o maior conteúdo na rádio, mas sempre aberta a receber conteúdo coreano e chinês", diz Claudia.

Leandro Jinu é o locutor do período da manhã na Rádio Banzai. Foto: Henrique Minatogawa 

Internet

A Rádio Banzai tem sua programação transmitida exclusivamente pela internet.

"Conseguimos atingir públicos que uma rádio com frequência local não conseguiria. Tanto que hoje, creio que a maioria das FM e AM transmite também pela internet", afirma Claudia.

"Por exemplo, pessoas que moram fora do país e sentem falta de saber o que acontece aqui, acompanham a rádio. Então tem essa vantagem de poder alcançar não só um local, cidade ou estado, mas o mundo mesmo".

Com 100% de atuação na internet, é natural que a utilização de redes sociais e e-mail seja potencializada. No próprio site da rádio, existe uma ferramenta para os ouvintes escolherem e pedirem a música.

Abertura

Com a já mencionada integração do Nikkei (e sua cultura) à sociedade brasileira, adaptações na forma como a comunicação é feita são inevitáveis e positivas.

"O nosso papel continua sendo de divulgação e preservação, mas ele tem que ser mais voltado para fora [da comunidade Nikkei]. Então temos que fazer o programa o mais aberto possível: explicar o que é essa cultura, o que é essa música... Voltado para brasileiros de outras origens e também para os Nikkeis que muitas vezes não conhecem", avalia Miyagui.

"A sensação é de que os brasileiros assimilaram a cultura japonesa porque é uma cultura útil, benéfica", acredita Miyagui. "Esse reconhecimento mudou muito em relação ao início da rádio. Até entre os próprios brasileiros, sentíamos que havia uma aversão, um preconceito. Hoje, ele aceita e até gosta, porque já não soa tão estranho. Não tem mais aquela imagem da guerra, do inimigo".

"Nosso propósito maior é realmente divulgar, fazer crescer a cultura japonesa no Brasil. Assim, não vejo que a Rádio Banzai seja concorrente da Rádio Nikkey. Eu prefiro considerar que nós trabalhamos com o mesmo propósito, que é promover a cultura", considera Claudia.

Roberto Galiani é o locutor do período da tarde na Rádio Banzai. Foto: Rádio Banzai

"Creio que não tem diferença ao falar com o público nipo-brasileiro", diz Roberto Galiani, 46, locutor da Banzai. "Busco usar uma forma mais popular, pois tento passar a maneira de comunicação bem próxima do ouvinte, como uma grande amizade", completa.

Ambas as rádios, além de música, também levam notícias e assuntos de destaque da atualidade, sem terem necessariamente o Japão como tema.

Na Banzai, por exemplo, há um programa dedicado a orientações profissionais. "O consultor Renato Botuem já está há 9 anos com o programa. Ele começou falando sobre os dekaseguis, o programa se desenvolveu e hoje ele fala sobre o mercado atual do Brasil", conta Claudia.

"A gente tem que se integrar; não pode viver fechado falando só da comunidade. Outro dia, recebi uma crítica: 'por que você fica falando de coisa que não interessa?'. Como, não interessa? Eu vivo aqui em São Paulo, sou influenciado por isso, então tenho que transmitir isso.  Como nós nos comportamos na cidade, qual é a nossa contribuição. Está tudo ligado. Não somos uma ilha", finaliza Miyagui.

Como ouvir:
Rádio Banzai: http://www.radiobanzai.com.br/

Rádio Nikkey: http://www.radioetvnikkey.com.br/
Escute na Rádio Imprensa FM 102,5 MHz (em São Paulo), segunda, terça e quarta-feira, das 22:00 às 23:00, e també pela internet http://www.radioimprensa.com.br/ no mesmo horário.

 

© 2014 Henrique Minatogawa

Brasil transmissão comunicação cultura internet Japão língua japonesa J-pop (música) línguas música música popular rádio Radio Banzai (estação de rádio) Radio Nikkey (estação de rádio) sociologia telecomunicações redes de área ampla
About the Author

Henrique Minatogawa é jornalista e fotógrafo, brasileiro, nipo-descendente de terceira geração. Sua família veio das províncias de Okinawa, Nagasaki e Nara. Em 2007, foi bolsista Kenpi Kenshu pela província de Nara. No Brasil, trabalha na cobertura de diversos eventos relacionados à cultura oriental. (Foto: Henrique Minatogawa)

Atualizado em julho de 2020

Explore more stories! Learn more about Nikkei around the world by searching our vast archive. Explore the Journal
Estamos procurando histórias como a sua! Envie o seu artigo, ensaio, narrativa, ou poema para que sejam adicionados ao nosso arquivo contendo histórias nikkeis de todo o mundo. Mais informações
Novo Design do Site Venha dar uma olhada nas novas e empolgantes mudanças no Descubra Nikkei. Veja o que há de novo e o que estará disponível em breve! Mais informações