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Sou a Mitikó

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Acho que os nomes japoneses soam estranhamente aos ouvidos brasileiros. Muitos deles estão relacionados também ao modo como foram registrados.

Mitikó

Ao pesquisar a chegada do meu avô, Seiji Shimoide, em terras brasileiras, eu descobri que quem traduziu (pessoa que sabe ler japonês), leu os ideogramas como sendo SHIMODE. Conheço outra família Shimoide, que não é parente nosso (veio de Hokkaido) que também deva ter seu nome traduzido como Shimode.

Com relação à minha família diretamente, nós morávamos em Minas Gerais e, para evitar pronúncia errada, meu pai registrou meus irmãos, cujos nomes em japonês seriam Reiko e Ryo, como Leiko e Lyo. Ele trocou o “R” por “L”.

No meu caso, em particular, como sempre fui chamada em casa por Mitikô, sofri bullying na escola (1945), sendo chamada de “Mitikô cocô”. Batizada que fui na igreja católica, meu padrinho não gostou do “Mitikô” pronunciado assim  e passou para “Mitikó”. Ao vir trabalhar no Rio e morando na casa de meu padrinho nos primeiros tempos, eu passei então a ser Mitikó.

Sou radicalmente contra a pronúncia errada dos brasileiros que passam o Mitiko para Mitiku. E justifico sempre o porquê. Nessa justificativa explico que o nome Mary é lido Meiri, Lourdes é lido Lurdes, Washington é lido Uashinton, mas Walter é lido Valter, Newton é lido Niuton e assim por diante. Então por que Mitiku?

Como sou contra o sufixo “ko”, que é uma característica dos nomes femininos em voga nos anos 30, 40 e 50, optei por colocar a terminação “MI” no nome das minhas filhas.

Aliás, são quatro os sufixos para nomes femininos japoneses: “ko”, “mi”, “yo” e “e”. E para evitar que me perguntassem se a criança era do sexo feminino ou masculino no caso do nome japonês, optei por incluir o nome brasileiro.

E na escolha desse nome brasileiro, procurei aqueles de pronúncia fácil para meus pais. Ou seja, nomes com grupos consonantais.

Minha filha decidiu que seus filhos teriam também o nome e sobrenome japoneses. Assim, eles têm quatro nomes. Isto foi uma decisão pessoal.

No Brasil, ao contrário dos países de língua espanhola, não é comum colocar o sobrenome da família materna. Assim, incluí-lo ou não, é de livre escolha na hora do registro. Do mesmo modo a legislação brasileira não obriga que se adote um nome de língua portuguesa. Assim, a grande maioria tem apenas um nome: o japonês. E, como disse anteriormente, muitas vezes esse nome está grafado de forma diferente. Tenho xará Mitiko grafado Michiko e Mitico.

A tendência, acredito, é excluir, ao longo do tempo, o nome japonês. Porém, o sobrenome continua. Como fazem os descendentes de italianos e alemães, por exemplo.

Tenho uma vizinha brasileira, de ascendência portuguesa, que se chama simplesmente SAYONARA!!!   

 

* Esta história foi escrita por um dos participantes do Workshop "Nomes Nikkeis", realizado no dia 26 de agosto de 2014 no Bunkyo, em São Paulo.

 

© 2014 Mitikó Une

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Sobre esta série

O que um nome quer dizer? Esta série apresenta histórias que exploram os significados, origens e as histórias ainda não contadas por trás dos nomes pessoais nikkeis. Estes podem incluir primeiros nomes, sobrenomes e até mesmo apelidos!

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About the Author

Paulista de Bastos, nasceu no final dos anos 30, desde os anos 60 mora no Rio de Janeiro. Formado em Geografia, em 1962, ganhou bolsa de estudos e concluiu o mestrado na Tokyo Kyouiku Daigaku, atual Universidade de Tsukuba. Aposentou-se como geografia do IBGE em 1992 e iniciou outras atividades, como professora de Japonês e consultora do CEPEL.

Publicou os livros “Seiji Shimoide Em busca do Eldorado brasileiro” (2008) e “Yumê” (2010). Com contos premiados, participa do Centro de Literatura do Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana e Destaques na Poesia em 2013 e 2014 em Taubaté.

Atualizado em outubro de 2014

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