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Capítulo 1: A cara não ajuda

"A nova professora de português é japonesa!"

A notícia correu como um raio e na mesma hora os alunos do terceiro ano técnico foram se posicionando na entrada das salas de aula.

E a professora novata que teria de passar na frente, rumo à sala do 3º ano “A” era eu.

Mas este corredor que não acaba mais... Estava nervosa. Meu primeiro emprego em escola, minha primeira aula.

Relembrando tantos anos depois, tenho vontade de me dar os parabéns por ter passado pela prova de fogo.

Se fosse professora de matemática ou ciências não seria nenhuma novidade, mas uma japonesa com especialização em português? Tão inusitado como, por exemplo, um pato desengonçado querer dançar no lugar do elegante cisne!

Lembro que minha mãe costumava dizer em bom português “A cara não ajuda”.

Voltando um pouco mais no tempo, no curso primário tive uma professora que me perguntou qual seria o significado do meu nome “Laura” em japonês. Lembro que não entendi o que ela queria saber e não pude responder. Certamente ela achava que tendo eu cara de japonesa, meu nome deveria ser japonês.

No cursinho e também na faculdade vivenciei fatos interessantes. Vez ou outra meus textos eram escolhidos e comentados em aula, algo como “linguagem adequada, originalidade...” Pois era só o professor revelar o nome da autora que os colegas vinham me procurar, admirados, querendo saber como uma japonesa consegue escrever fluentemente em português.

Simplesmente eu achava graça, pois para mim era tão natural como o ato de respirar. Mas no fundo no fundo, eu me sentia lisonjeada.

O mais interessante está por vir. Até hoje há pessoas que pensam que sou escritora, mas em japonês. Mesmo com 4 livros publicados e tendo colaborado durante alguns anos em jornais, há ainda quem duvide que eu escreva em português.

Os não descendentes são os que menos estranham. Os nikkeis , se eu digo que sou escritora, logo perguntam: “Mas, escreve em japonês, não é?”. Isto é um elogio? Ou uma insinuação de que não é possível nikkei escrever em português?

Hoje, porém, posso dizer com orgulho que escrevo também em japonês.

Isto foi possível graças ao apoio, ao incentivo e à colaboração de muitas pesoas que Deus tem colocado em meu caminho.

A todos, arigato !

© 2011 Laura Honda-Hasegawa

Brasil identidade Japonês
Sobre esta série

Meus avós vieram do Japão há mais ou menos 100 anos. Eu nasci no Brasil. Por isso, quero servir de “ponte” entre o Brasil e o Japão. O Japão que está arraigado no meu coração é um tesouro que quero guardar para sempre.  E foi movida por esse sentimento profundo que escrevi a presente série.  (Bom dia em japonês é Ohayo)

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About the Author

Nasceu na Capital de São Paulo em 1947. Atuou na área da educação até 2009. Desde então, tem se dedicado exclusivamente à literatura, escrevendo ensaios, contos e romances, tudo sob o ponto de vista nikkei.

Passou a infância ouvindo as histórias infantis do Japão contadas por sua mãe. Na adolescência lia mensalmente a edição de Shojo Kurabu, revista juvenil para meninas importada do Japão. Assistiu a quase todos os filmes de Ozu, desenvolvendo, ao longo da vida, uma grande admiração pela cultura japonesa.

Atualizado em maio de 2023

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