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Capítulo 13: Você fala a língua nissei?

Quando estudante eu tive como colega uma garota muito pitoresca.

Ela era filha de japoneses e em casa falava apenas o japonês.

Embora a classe fosse 90% de brasileiros, ela usava palavras em japonês sem o menor constrangimento. “Antá estudou para a prova?”, “Eu não entendi direito ano lição”.

Inicialmente achava que soava estranho, mas a classe toda aceitou naturalmente e, sendo assim, as conversas na hora do intervalo foram ficando cada vez mais divertidas.

Mesmo hoje, toda vez que ouço a palavra anta (você), sem querer começo a rir.

“Erena, como estará ela? Deve ter constituído família e, com certeza, deve chamar o marido, os filhos, todos por antá. Que saudades!”


A língua nissei existe também nos nomes de alimentos.

Uma amiga que viveu dez anos no Japão disse: “Da comida japonesa eu gostei mais do shurikô.

- Nunca ouvi falar. Como é que é?

- Tem motchi dentro do ankô.

- Ah, sei, é o oshiruko.

Numa festa japonesa, o rapaz gritou:

- Alguém mais quer chachimi? Tá no fim.

E todo mundo: - Chachimi, eu quero, eu quero!

Realmente, o sashimi é muito popular entre os brasileiros.

Na feira, a dona de casa perguntou: - Quanto é o cabotchan

Olhou para mim e disse sorridente: - Estou aprendendo japonês com a minha sogra, enquanto escolhia um kabotcha.

Estava andando pela Liberdade, quando uma mulher aproximou-se:  

- Obasan não quer manju?

Olhei para ela (parece ser bem mais velha que eu, que história de me chamar de obasan...), vi a cesta ainda cheia e pedi uma bandeja, meio contrariada.

Parei em frente à banca de peixe na feira e um jovem moreninho com cabelos à moda rastafári se dirigiu a mim com um sorriso:

- BAATCHAN, vai peixe?

Queéééé ???

Ah, como o sangue me subiu à cabeça!

© 2011 Laura Honda-Hasegawa

Brasil gerações identidade línguas Nisei
Sobre esta série

Meus avós vieram do Japão há mais ou menos 100 anos. Eu nasci no Brasil. Por isso, quero servir de “ponte” entre o Brasil e o Japão. O Japão que está arraigado no meu coração é um tesouro que quero guardar para sempre.  E foi movida por esse sentimento profundo que escrevi a presente série.  (Bom dia em japonês é Ohayo)

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About the Author

Nasceu na Capital de São Paulo em 1947. Atuou na área da educação até 2009. Desde então, tem se dedicado exclusivamente à literatura, escrevendo ensaios, contos e romances, tudo sob o ponto de vista nikkei.

Passou a infância ouvindo as histórias infantis do Japão contadas por sua mãe. Na adolescência lia mensalmente a edição de Shojo Kurabu, revista juvenil para meninas importada do Japão. Assistiu a quase todos os filmes de Ozu, desenvolvendo, ao longo da vida, uma grande admiração pela cultura japonesa.

Atualizado em maio de 2023

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