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Capítulo 3: Descobrindo Okinawa

Há anos aguardava pela oportunidade de conhecer Okinawa e por isso, este famoso arquipélago do Japão, constituído por ilhas e praias belíssimas, merece um artigo sobre ele. Felizmente, pude comprovar pessoalmente algumas de suas peculiaridades. Considerado diferente do resto do Japão por ter pertencido a um reino independente chamado Ryukyu, Okinawa acabou desenvolvendo sua cultura própria e parte de sua história é bem diferente, tendo recebido mais influências da China do que até do próprio Japão.

Depois da Segunda Guerra Mundial e da Batalha de Okinawa em 1945, Okinawa permaneceu sob a administração dos Estados Unidos por 27 anos até ser devolvido ao Japão em 1972 e desde então, os EUA mantiveram bases aéreas militares no arquipélago. O aeroporto faz parte de uma dessas bases.  É freqüente ver nomes de estabelecimentos em inglês ou bandeiras americanas hasteadas nas ruas e há muitos restaurantes que servem bifes, batatas fritas e lanches fast-food.

Já na chegada ao aeroporto de Naha, pude notar a presença dos soldados americanos. Puxei papo em inglês com um americano que estava no aeroporto e ele não acreditou que sou brasileira por causa dos meus olhos puxados.

A maioria das casas no Japão são feitas de madeira, mas as típicas casas modernas de Okinawa são feitas de concreto com janelas vedadas para proteger dos tufões. Os telhados são planejados para serem resistentes a ventos fortes, com telhas presas ao cimento e não apenas apoiadas como seria feito em outros lugares no Japão.

Geralmente, há dois dragões no telhado das casas que são chamados shisa ou shishi.  O que é colocado ao lado direito tem a boca aberta para atrair bons espíritos e expulsar os espíritos ruins. É a fêmea. O macho, ao lado esquerdo, tem a boca fechada para manter os espíritos bons e proteger a casa. Este costume é de influência dos chineses e hoje, encontramos facilmente os shisas em lojas, em diversos tamanhos e cores, tanto para chaveiros, como para decoração.

Os motoristas dos ônibus de turismo foram os primeiros que vi vestindo camisas bem estampadas ou floridas, com cores fortes e típicas de Okinawa. Depois, foram os funcionários dos supermercados, dos hotéis, das lojas de conveniência, dos restaurantes. Achei interessante porque as estampas e cores fortes dão um ar mais desinibido ao ambiente. As pessoas são muito simpáticas, gostam de puxar papo e conversar conosco. Pareceu-me que são mais curiosas e não têm tanto receio em conversar com estranhos.

Falando em estranho, assim como é estranho para os brasileiros entrar nu em um recinto com pessoas desconhecidas, é estranho para os japoneses o costume de vestir um biquíni do Brasil. Os biquínis no Japão são maiores tanto na parte superior como de baixo e geralmente são vendidos com alguma saia, vestido ou shorts como saída de banho. Isso pareceu não ser diferente em Okinawa.

As praias são muito belas, o clima quente predomina e o número de resorts é alto, por isso Okinawa é bem procurado por turistas japoneses, sendo considerado o “Havaí do Japão”. A areia da praia é cheia de restos de corais e conchas bem diferentes. Às vezes, a área para banho é cercada por uma rede, para proteger os banhistas das abundantes águas-vivas.O Churaumi Aquarium é um aquário famoso no Japão pela sua grandiosidade e riqueza em diversidade de espécies. É o segundo maior do mundo depois do Georgia Aquarium, em Atlanta. Pude tocar em uma estrela-do-mar e ver seres esquisitíssimos. O aquário principal, de 7500 metros cúbicos, tem 60 centímetros de espessura para suportar a pressão do seu conteúdo. É realmente gigante e fiquei emocionada em ver tantas dezenas de animais marinhos de perto. Raias, cardumes, tubarões, águas-vivas nadavam tranqüilamente no aquário como se o ambiente realmente fosse o mar. Eu nunca havia visto um show de golfinhos, foi a primeira vez. Esses animais dóceis são bastante inteligentes e fiquei encantada com a simpatia deles, mas confesso que fiquei com dó por estarem fora de seu habitat. Imagino que devam tratá-los bem, mas em qualquer aquário ou zoológico, chego a ficar com um pouco de remorso por visitar e contribuir para esse resgate dos animais da natureza. São atrações para os humanos, quem disse que nós humanos somos superiores a eles e temos o direito de seqüestrá-los da natureza?

Churaumi Aquarium

O Ryukyu Mura é uma imitação de uma aldeia da época do reino Ryukyu. Nesta aldeia também é exibido um pequeno engenho, onde o famoso açúcar mascavo Okinawa ainda é feito da forma tradicional em que um búfalo ajuda a espremer a cana-de-açúcar com a moenda. Há também uma área dedicada às espécies de cobra venenosa, o "Habu", encontrada somente em Okinawa e Taiwan.

Entrada do Ryukyu Mura

Cana-de-açúcar sendo moída

O clima de Okinawa permite o cultivo de mamão papaia, batata doce, bananas, água de coco, cana-de-açúcar e abacaxi. Não dá para comparar com o Brasil, mas perto dos preços destes produtos no resto do Japão, são um pouco mais baratos.

Um prato típico da região é o Okinawa Soba. Ele é servido com pedaços de carne de porco bem macios. O Japão é o país com maior expectativa de vida do mundo e dentre os japoneses, os okinawanos são destaque, principalmente as mulheres, com uma vida média de 86 anos.

Há abundância de go-ya, que é um legume, uma espécie de pepino amargo, também chamado de nigauri e há muitos pratos que utilizam este ingrediente. É comum ver bebidas de cobras. Eu experimentei e achei bem forte. O vendedor disse que o teor alcoólico era de 25%.

Bebida alcoólica

Lá existe a fábrica de cerveja ORION, que é a 5ª maior cervejaria do Japão, mas comanda só cerca de 1% do mercado de cerveja japonês. Porém, em Okinawa, controla mais de 50% do mercado da cerveja. É uma fábrica que dá bastante valor a reciclagem.

Visitei as Ruínas do Castelo de Nakagusuku. Que bela vista lá de cima! Foi o único castelo que escapou dos danos da Batalha de Okinawa, enquanto que o Shuri-jo foi quase totalmente destruído. Em 1992, o Shuri-jo foi reconstruído com base em fotografias e registros históricos. A vista do ponto mais alto do castelo é muito bonita. Antes dividida em feudos, foi unificada pelo rei Sho Hashi, que designou o castelo de Shuri como centro administrativo. As Ruínas do Castelo de Nakagusuku e o Shuri-jo são patrimônios mundiais da humanidade.

Em apenas dois dias de passeio, aprendi e guardei todas estas curiosidades sobre Okinawa que ficarão para sempre em minha memória. É realmente um lugar especial e merece ser visitado por quem tiver oportunidade!

© 2009 Silvia Lumy Akioka

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Sobre esta série

Meus avós maternos deixaram sua terra natal Fukuoka, no Japão, em busca de uma vida melhor no Brasil. Assim como outros milhares de imigrantes, sacrificaram-se muito e devemos a eles nosso conforto e os valores transmitidos de geração em geração. É com muita gratidão, que deixo registrada nesta série a oportunidade que tive de morar como estudante em Fukuoka.

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About the Author

Silvia Lumy Akioka é sansei brasileira. Foi dekasegui aos 17 anos e em outra ocasião, bolsista na província de Fukuoka, quando publicou a série “O ano de uma brasileira no outro lado do mundo” - seu primeiro contato com este site. É admiradora da cultura japonesa e também gosta de escrever sobre outros temas em blogs. Esteve em Los Angeles como voluntária em 2012 e há 6 anos, é consultora oficial do Descubra Nikkei.

Atualizado em fevereiro de 2019

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