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https://www.discovernikkei.org/pt/journal/2008/1/10/brazil-nihonjinmachi/

Capítulo 10 Londrina: Movimento da Cultura Nikkei e Matsuri Dance

Recentemente no Brasil, começou-se a utilizar, principalmente entre os jornais escritos em japonês no país, termos como “cultura nikkei” ou “nova cultura nikkei”. Estes termos são usados no sentido de “cultura modificada para um estilo brasileiro, com base na ‘cultura japonesa’”. Isso mostra uma postura de perceber a “cultura nikkei” como uma versão própria da “cultura japonesa”, diferenciando-a da “cultura japonesa do Japão”, definindo-a como elemento da “cultura brasileira” multicultural.

Atualmente, a área onde se considera haver presença mais intensa desta cultura nikkei é a de Paraná Norte (norte do estado do Paraná). É uma região de atividade notável, que foi colonizada por diversos nikkeis desde antes da Segunda Guerra Mundial e que se desenvolveu em termos de política, finanças, leis e negócios no pós-guerra. A metrópole central do Paraná Norte, Londrina (com população de cerca de 500 mil habitantes), foi desenvolvida no pré-guerra por uma companhia de terras da Inglaterra e teve seu nome derivado de Londres. (ver Mapa 1). A fixação de colonos nikkeis começou no pré-Guerra, em 1930, sendo que agora já há a gerações de sanseis e yonseis. Além disso, esta cidade é cidade-irmã de Nishinomiya, da província japonesa de Hyōgo, havendo assim uma comunidade nikkei fortemente integrada.

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Dentro da cultura nikkei proveniente de Londrina se destaca a “Matsuri Dance”. O Matsuri Dance foi desenvolvido no Bon’odori criativo para o Londrina Matsuri, realizado todos os anos em setembro, sendo iniciado na região como o “Bon'odori Novo” há cserca de 15 anos. Tendo como base a coreografia do Bon'odori, com adição de movimentos do estilo pop e street dance, com a características de arranjos diferentes, incluindo gêneros e ritmos diferentes da música pop japonesa, como “Matsumoto Bonbon”, “Shimauta”, “Gizagiza Haato no Komoriuta” e “Runner”. Sobre um palco equipado com mikoshi, cantores e cantoras se apresentam com música ao vivo, tocadores de tambor taiko e os dançarinos se animam o espetáculo.

O Londrina Matsuri, desde que iniciado em 2003, tem sido realizado na Praça Nishinomiya. O grupo organizador, como será falado posteriormente, é realizado pelo Grupo Sansey, liderado pela música nikkei Miriam Michiko Shiroma. A área, de 19.000 m2, há comidas e bebidas japonesas, como yakisoba e makizushi, barracas vendendo artesanato tradicional japonês, área de lazer para crianças e famílias desfrutando juntas o final de semana. Em 2007, houve uma seqüência de dias de tempo bom e 150 mil pessoas visitaram o evento em 4 dias. No palco houve apresentações de show de karaokê, taiko, dança de Okinawa, Yosakoi Soran, além de outras apresentações de dança tradicional. Houve também em uma área especial, a degustação de Nagashi sōmen, que chamou a atenção. A maior atração era o Matsuri Dance, que foi apresentado todas as noites.

Os líderes do Grupo Sansey, Michiko e Luís Shiroma, além de um dos membros fundadores, Cláudio Furukawa me explicaram sobre o fascínio e a história da criação do Matsuri Dance. Em 1988, a Michiko, que dava aulas de karaokê, sentiu que faltava alguma coisa na união de canto e melodia japonesas. Era o ano em que se celebrava o 80º aniversário da imigração japonesa ao Brasil e ocorriam eventos comemorativos em todo o Brasil, especialmente em São Paulo. Havia, é claro, eventos em Londrina, onde havia muitos nikkeis, mas a maioria dos funcionários das associações de descendentes de japoneses era de isseis. O planejamento dos eventos foi feito segundo sua iniciativa, sendo difícil abrigar as opiniões de jovens da geração de Michiko.

Os isseis falavam que nosso japonês era esquisito e que deveríamos sentir mais orgulho por sermos japoneses, mas nós somos brasileiros nascidos no Brasil. Não tinha problemas no jeito dos nossos avós. Mas o nosso também deveria estar certo. Ela defendia que a “cultura japonesa” não deveria ser uma só, enfatizando a diversidade da cultura nipônica. Ela queria, então, realizar o evento comemorativo dos 80 anos de imigração de um modo diferente do defendido pelos isseis, ou seja os da geração de seus avôs e avós. Com base nesta idéia, em 1988 ela fundou o Grupo Sansey, centrado nos jovens de suas aulas de Karaokê. Este grupo foi registrado como pessoa física em 1994, sob o nome de Grupo Sansey, Cultural e Beneficente. Em 2003, foi realizado o primeiro Londrina Matsuri, que levou ao sucesso. Os três concordam que é inesquecível a emoção de ver numa noite 12 mil pessoas dançado o Matsuri Dance juntas.

Eles afirmaram: “Tínhamos a identidade de ‘japonês’, mas queríamos mostrar que isso era diferente de ser ‘issei’. E que ‘queriamos mostrar com o festival que nós, nikkeis, tínhamos acolhido a cultura japonesa e que as sementes que nossos avós plantaram renderam bons frutos. Além disso, queríamos mostrar a cultura japonesa aos não nikkeis e criar uma nova cultura brasileira”. A palavra “Sansey”, do nome do grupo tem duas interpretações, uma sendo a nova geração, (como em nikkei sansei), e a de afirmação (sansei, significando “aprovado”).
 

Pessoas dançando fervorosamente o Matsuri Dance (1)

Em novembro de 2006, o Matsuri Dance foi difundido para São Paulo. No evento “Japan Experience – Experimientando a cultura japonesa 06”, que apresentou a cultura japonesa, centrado em jovens nikkeis, os membros do Grupo Sansei, que vieram de Londrina unificaram os turistas com o Matsuri Dance. Isso significa que o Matsuri Dance não se restringiu a uma presença local da cultura nikkei do Paraná do Norte.

Em 2008, será celebrado o centenário da vinda dos imigrantes japoneses ao Brasil, que vieram pela primeira vez a bordo do Kasato Maru. Agora, a “cultura japonesa” existe na sociedade brasileira como “cultura nikkei”, sendo reconhecida como um movimento com novo sentido e posição. Como falou a Sra. Michiko, posiciona-se como um fator significativo que compõe a “nova cultura brasileira”, que vem sendo construída dinamicamente dentro das circunstâncias da multiculturalidade brasileira. É possível ver no Matsuri Dance a forma de progressão atual desta atividade de construção.
 

Pessoas dançando fervorosamente o Matsuri Dance (2)

Retornemos ao assunto do festival de Londrina de 2007. No último dia, 9 de setembro, o Matsuri Dance, que havia começado às oito da noite atinge seu clímax, com 15 mil pessoas dançando juntas. Com o anúncio de que seriam exibidas novas danças e coreografias, ouve-se a aclamação do público. O que chama a atenção é que não apenas os jovens que dançavam, mas também grupos de senhoras de meia-idade. Nikkeis e não-nikkeis, independente de cor dançavam entusiasmadamente. O autor ficou muito impressionado por ver que em uma cidade quase totalmente desconhecida do povo japonês, localizada no outro lado da Terra, um grupo de nikkeis se apresentou em uma atmosfera intensa e multi-étnica.

Bibliografia:
Grupo Sansey http://www.gruposansey.org.br/

© 2008 Sachio Negawa

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Sobre esta série

O bairro japonês de São Paulo — sempre que eu me vejo imerso nele, cercado de caos por todos os lados, invariavelmente eu sinto a minha mente como que vazia por um instante e me pergunto: “por que teriam esses japoneses atravessado os mares e construído, do outro lado do mundo, um bairro só deles?”.

Nesta coluna, eu gostaria de dividir com os leitores a história e a imagem contemporânea dos bairros japoneses que eu visitei, procurando não me afastar da pergunta que abre este artigo.

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About the Author

Sachio Negawa é professor-assistente dos departamentos de Tradução e Línguas Estrangeiras da Universidade de Brasília. Mora no Brasil desde 1996. É especialista em História da Imigração e Estudos Comparativos entre Culturas. Tem-se dedicado com afinco ao estudo das instituições de ensino nas comunidades japonesa e asiática em geral.

Atualizado em março de 2007

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